Cheguei ao entardecer, mas ainda a praia pulsava de gente. Estacionei no único lugar que havia, saí do carro e entrei, observadora em fato de trabalho, no cenário de verão. Não me lembro de antes ter visto a bandeira da praia de Carcavelos vestida de vermelho; foram os surfistas a encomendá-la assim, tantos os abraços que davam às ondas.
A Teresa ainda não tinha chegado. O nosso jantar vai ser longo e saber a curto, vou rir até me doer a barriga, com ela é sempre assim.
Em vez de me ir sentar na esplanada do bar, os meus sapatos altos levam-me ao limite da pequena falésia amarela, um ouro sobre um azul de lágrimas fartas que se escondem nas dobras do meu coração, surdas, eu não as sei ler. O azul imenso atira ondas contra a falésia num vaivém que cospe espuma em ofertas ao céu, orgasmos de vida que me fazem marcar encontro aqui com o inverno. Sei que os restos das gargalhadas do mar me vão cobrir da frescura que bebo como se fosse a alvorada de mim.
Tentei fotografar isto para ti, claro, estas cores impossíveis não te deixarão ver as lágrimas que me entopem a garganta nem verás o estremecimento das minhas mãos denunciando que palpito assim. Tomei deste silêncio musicado de mar, e de amor, e entrei dentro de mim. Não precisei procurar muito, encontrei-te, abracei-te como quero e ficámos assim fora do tempo, pelo tempo fora.
A Teresa chegou. Vejo-a daqui olhar em volta, procurar-me pelas mesas. Encaminho-me em passadas largas até chegar junto da minha amiga, que está bronzeada, sorri-me com a luz que lhe conheço e os seus olhos estão ainda mais azuis.
- Estiveste a chorar?
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