a voz à solta
20/08/2014
De livre vontade
Quem neste momento olhasse para mim mesmo distraidamente, diria que acabei de enfardar uma entediante dose de perna de peru no forno, o que não é verdade.
O que é verdade é que estou desde ontem a tentar perceber que palermice foi esta e isso deixa-me, não posso negar, com cara de peixe: a abrir e a fechar a boca sem emitir qualquer som (uma proeza, no meu caso), ou seja, praticamente o aspecto de que me revestiria caso tivesse comido a referida e entediante dose.
Cacifos, malas de viagem ou dispositivos de amarração de bicicletas a postes de electricidade, com certeza, cadeados cadeados cadeados. Mas amor!? En-cadear o amor!? Que brincadeira vem a ser esta, senhores gestores do centro comercial?
É pendurado na varanda de uma das superfícies comerciais que encanta Coimbra e que deita para o Mondego, que se pode encontrar este triste desajustado idiota e infeliz painel com cadeados agarrados a fitinhas de cueiros de bebés antigos e corações com inscrições como esta, caso se pretenda confirmar.
Coimbra é, por acaso, cidade onde costumo notar que as mães gritam menos com os filhos, que os casais se esquecem mais de rabujar entre eles, que as crianças conversam e fazem perguntas interessantes - sim eu ponho-me à escuta - em vez de gritarem e darem pontapés nas canelas dos pais, e que as pessoas, em geral, são mais bonitas do que na minha cidade habitual, Lisboa. Sinto, até, que a paz pára mais ali do que aqui.
Portanto era não estragarem, senhores gestores do centro comercial, e tirarem aquela merda dali, que há crianças que já sabem ler, sim?
E em Paris nas pontes não sei quê e em Amesterdão por acaso também, não é, mas isso interessa o quê?, nós somos nós. E sabemos bem que amor só é amor se for de livre vontade, não sabemos?
(isto de andar a postar fotografias deve-se sobretudo à saudade, não ao tédio, à saudade)
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