Acordei andava a
madrugada pelas quatro horas e a lua não sei, da cama não a vejo, mas por acaso
gostava de saber, que bem haviam de ficar aqui duas ou três
palavras sobre o luar, paciência.
Mantenho os olhos
cerrados numa precaução aprendida em noites assim, não poucas, mas o sono
conseguiu fugir. Sem luar e sem sono, agarro-me ao vento. A janela aberta sobre
a serra deixa entrar o som harmonioso desta serenata às folhas das árvores que
se agitam trémulas de alegria, poesia assim ilumina qualquer um, mesmo
sem lua. Ao longe oiço uma coruja mas o que eu gostava era de dormir. E de voltar
a encontrar o veado. Quase o atropelava o mês passado, mês nada bom para
atropelar veados, este surgiu a seguir a uma curva na estrada, surpreendido
pelo carro teve uma ideia o belo macho, pôs-se a fazer corridas, mas que bicho tão grande, eram duas da manhã e ele também sem
sono. Ganhou, meteu-se entre duas árvores onde a trabalhada estrutura que lhe
ornamentava a cabeça conseguiu caber e desapareceu. As maçãs tinham assado bem,
meti-lhes canela e vinho do porto e as sobras do natal estão quase consumidas,
está tudo arrumado e limpo. Senti o sabor da chanfana do jantar, admira-me ter
gostado tanto daquilo. Daqui a trinta e nove anos farei apenas o que me
apetecer, ouviste? Teremos asas nas costas e levar-te-ei ao núcleo da Terra
para te mostrar de que cor é este amor que plantaste na minha existência e me
está a queimar os olhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário