a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

11/07/2013

Estrelas na areia

Tenho tantas saudades tuas.

Procurei-te por todo o lado.

Entrei no café onde íamos sempre e o empregado a quem deste a provar os teus doces de Natal, lembras-te?, perguntou por nós. Não sei, disse eu. Não estavas lá, por isso eu também não. Estavam só o vazio e o frio. O sorriso do homem do café também tinha saído.

Fui à loja dos anéis onde nos sentámos a escolher loucuras e nos ofereceram uma bebida. Não estavas. Vi outro par de noivos sentados nas nossas cadeiras. Fugi.

Corri ao aeroporto, onde tantas vezes te encontrei e onde te vi sempre caminhar, correr, para mim. E eu para ti. Não desta vez.

Lembrei-me da loja dos discos, aquela que vende os teus cd's de música clássica. Fui lá, mas a loja já fechou. Tinha os vidros, por dentro, cobertos de papel pardo. Onde compras agora os teus discos?

Subi a única colina do teu país, ao hospital onde passaste todos aqueles dias ligado aos tubos e à cama articulada. Procurei em todos os pisos, não te vi.

Peguei furiosamente no meu carro e voei até ao Alentejo, entrei no café dos matemáticos, mas tu tinhas saído há muito. Entretanto o largo do café já tem igreja, sabias disso?

Acabei o dia na praia. Na praia onde daquela vez vi os roazes do Sado, contei-te? Olhei para o ceú à procura das estrelas e do seu poder mágico. Mas elas não chegaram porque o Sol ainda não se pôs, ali ao fundo, no mar.

Sentei-me na areia e então chorei.

Onde estás?

Vi as minhas mãos enterrarem-se neste solo macio e duro ao mesmo tempo. Por entre os meus dedos os grãos corriam como se fossem líquido em pedaços.

Em pedaços está o meu coração. E as estrelas, onde estão?

E foi então que as vi. Muitas, imensas. Todas coladinhas, alinhadas umas com as pontas aos mesmos cantos das outras. Tão bonitas.

As estrelas estavam todas ali. Escondidas na areia.


Acordei de um salto. Aproximei-me da janela do meu quarto vazio e olhei para fora, para o céu. Ainda é noite e as estrelas estão lá, brilham para mim. Para ti também?

Sequei as lágrimas, voltei para a cama, adormeci.

De manhã, quando acordei, encontrei esta foto no chão do quarto. Foste tu?

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