a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

05/06/2015

Os jacarandás a arrasar lá fora e tanta poesia por fazer

Estou bastante esperançada com o regresso das colisões entre protões europeus em cachos e à força toda, que é caso para dizer assim. Europeus, quer dizer, em princípio são suíços e quando muito encontram-se vestígios de franceses. De qualquer forma, já que fazemos parte da Europa, eu achava giro a gente exportar comboios de protões portugueses para ajudar a compor os teraelectrãovolt no CERN, naquelas trincheiras de ataque, ou melhor, nanotrincheiras de ataque, ao mesmo tempo que se aumentavam as exportações e consequentemente ganharia a economia nacional o músculo novo de que tanto precisa.

Isto tudo por causa da matéria escura, da anti-matéria e até mesmo para a gente saber as tendências primavera verão do ano três mil milhões e meio, que é o mesmo que perguntar ao universo

- Universo, para onde te expandes tu com tanta pressa, querido? (“querido” é fundamental)

E portanto pimba com os protões.

Creio que teremos bom preço para exportar quantidades astronómicas de protões muito bons, cá da terra, uma vez que não os gastamos a produzir energia nuclear, ou seja, temos imensos.

Mas porquê isto agora, assim, numa sexta feira destas, com os jacarandás a arrasar lá fora, tanta poesia por fazer e a feira do livro cheia de vontade que eu lá volte?

Porque apanhei hoje de tarde a dona Esmeralda (eu sei que já ontem falei nela... enfim, mas é só mais isto, que também há quem escreva todos os dias sobre um pássaro tenor ou lá o que é o pássaro, sem sequer revelar a espécie, o que dificilmente se perdoa, adiante), a dona Esmeralda, dizia eu, estava a conversar com o porteiro, que gosta muito dela (pudera). Ora diz o porteiro de repente que a senhora (eu) é silenciosa (não me ouviram aproximar porque falam os dois muito alto) e, para além de silenciosa,

- Parece mesmo a Nossa Senhora, é o rosto.

Estaquei com a chávena na mão e senti cair-me um pedaço de céu em cima. Ou seja, fiquei p’rali sem resposta sem nada.

Depois, já com o chá meio na mão meio bebido, é que percebi que parecer-me com a Nossa Senhora não é nada mau: deu-me uma nova perspectiva de existência que me levou calma e ponderadamente a lembrar-me do que podemos fazer à nossa economia com as hordas de protões que nos sobram da energia nuclear que não produzimos. Foi isso.

(e depois, ao chegar a casa, quando deixei os sacos de compras do supermercado à porta do elevador enquanto fui arrumar o carro no meu lugar de estacionamento, não tive medo nenhum que me roubassem os robalos)

13 comentários:

  1. Olha que a Nossa Senhora é bem gira!

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  2. Era capaz de apostar que esses robalos devem ficar divinos, dado o contexto...

    (E o pássaro tenor envia cumprimentos -- cantados, uma espécie daqueles postais que se abrem e de onde sai música em feixes acelerados, por assim dizer...)

    Boa noite, cara Susana :)

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    1. Os robalos estão a habilitar-se a ficar divinos e nem precisam aqui do itálico, se não se importa.

      Quanto ao pássaro, sempre é tenor, bem me parecia. Eu não sei distinguir isso do "baixo", "tenor", "soprano" e há mais (mas sei que soprano é mulher, nada mau). :-) Piu-pius de volta à avezinha se faz favor.

      Boa noite, caro Xilre! :-) E bom fim de semana.

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    2. É bem verdade que soprano é mulher -- apenas de vez em quando surge assim uma excepçãozita, aqui como o amigo Robert Crowe, que se apresenta no seguimento, numa bela aria de Handel:

      https://www.youtube.com/watch?v=oOHnJZHiM9s

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    3. Belíssima, muito obrigada! Mas melhor ainda se ouvir sem ver que é um homem. A voz é de mulher, de facto. :-)

      Bom sábado, querido Xilre!

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  3. Montei uma Nossa Senhora de protões
    que fazia suaves aparições
    e não tinha medo dos ladrões

    e sob os jacarandás escrevia
    textos que ela não sabia
    mas tinham imensa poesia.

    Sempre gostei mais de protões do que de neutrões; coisas...
    Bom Sábado, Susana!

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  4. Teresa, mas o que é isto? Um poema assim, tão lindo, tão da família do meu pobre post? Impressionas-me! Uau... muito obrigada.
    Hoje na feira do livro lembrei me de ti quando passei perto dos gelados. :-)
    Os neutrões são ligeiramente desenxabidos, concordo. :-)
    Bom domingo, Teresa!

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    1. Então espero que tenhas comido um gelado de café, e , já agora, com poucos neutrões...

      Bom Domingo, Susana, e parabéns por teres uma Voz tão especial.

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    2. Muito obrigada, Teresa. :-)

      E sim, comi um gelado de café!

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  5. (quem sabe podes ir sentar-te nos ramos de uma azinheira a descansar... :P)

    O jacarandá florido
    Brando cantar trazia
    Branda a viola da noite
    Branda a flauta do dia

    O Jacarandá florido
    Brando cantar trazia
    O vinho doce da noite
    A água clara do dia

    Quem o olhava bebia
    Quem o olhava escutava
    O jacarandá florido
    Que o silêncio cantava

    Matilde Rosa Araújo

    Beijos, Susaninha. :)

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  6. (essa dos ramos da azinheira, principalmente por ser SENTADA e não "à sombra da" é que levei tempo a entender :-)))

    Um poema sobre o Jacarandá... Que lindo, Maria, obrigada! O Jacarandá florido é mesmo um tesouro de comer com os olhos.

    Beijos e boa semana, Maria. :-)

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  7. Bem, como Nossa Senhora devias estar em pé na azinheira mas como és mais moderna podias sentar-te. Eheheh.

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