a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

22/08/2015

Uma sopa de verão

(actualização do post a 24-08-2015)

Depois do comentário da Cuca ali em baixo, não descansei enquanto não confirmei a minha afirmação sobre as vespas deste post serem "do tamanho de um dedo dos meus". Três dias depois encontrei caídos na lareira dois cadáveres, apanhei-os e tirei a fotografia colocando a jeito precisamente um dedo dos meus. 


A vespa cabra, dizia hoje o técnico quando lhe pedi confirmação, também pode ser vespa cabro, mas eu penso que é à vespa crabro que ele se refere. De qualquer forma, agora que olhamos todos de perto, embora seja bem constituída ela não me chega ao dedo mindinho. Para a próxima faço ao contrário, tiro as medidas primeiro.

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Conheci-as hoje pelo técnico especializado que teve de vir a correr de lá donde estava para as ver, dizer o que é, salvar a gente. Elas fizeram ninho na chaminé da lareira, que está de férias desde abril e agora deixou de fumar e isso, em lareiras, não é bom (confirmação feita com três pinhas secas e um pequeno toro, o fumo tossiu-o todo para dentro da sala). Mantêm um zumbido permanente que se confundiu provisoriamente com o vento a soprar na chaminé, o que é isto, é o vento; mas não, não é o vento são elas. Têm o tamanho de um dedo dos meus, uma houve que me visitou à hora matinal de passar a ferro, eu a toalha grande para o almoço, eu a despachar-me, eu a janela aberta, eu cheia de calor, ela a entrar, a zumbir, eu a fugir muito depressa, o técnico especializado ao telefone, minha senhora dê-me meia hora, eu dei-lhe um bocadinho mais. E depois, na rua, a olharmos todos para cima, para a saída da chaminé que já não fuma, é uma força aérea que ali está, é um dentro e fora, um dentro e fora.

- Ah, estou a vê-las, estou. Sabe o que é isto? (não, mas quero imenso saber) Isto são vespas cabras, minha senhora.

Vespas cabras.

- E olhe que elas trabalham depressa, o favo pode atingir um metro ali dentro em poucos dias... está cá segunda feira?

Não vamos tão depressa que ainda ontem foi quinta e eu tomei nota para escrever o post do melão que veio do supermercado inteiro, que entalei entre dois sacos de compras pesados à brava, quando arrumei tudo no porta-bagagens, mas que se soltou na primeira curva da serra, o melão, e depois veio a rebolar nas outras todas até cá acima, capum à esquerda e depois capum à direita, o melão rebola com as forças aplicadas pelas curvas, é o costume.

- A natureza devia ter feito carros dentro dos quais os melões não rebolem - aquilo ia a enervar-me e eu nem sempre digo coisas fabulosas nas curvas da serra.

- Mãe, a natureza não fez os carros, só nos fez a nós.... e nós é que fizemos os carros.

Ou seja, não fora as vespas terem-se metido no caminho do fumo, as vespas cabras, e na segunda feira eu era no trabalho que havia de estar, a encetar um novo ciclo de café logo pela manhã. Para além disso o post do melão teria saído completo, desenvolvido, com os pêssegos a fazer o papel principal, em vez de entrarem só agora, coitadinhos, foram atropelados pelo melão umas vinte vezes, é contar as curvas até aqui acima e sabemos quantas foram, e ver, à chegada, o lindo serviço que ali ficou, uma salada de frutas que mais pareceu, pareceu não, era mesmo, que nervos, precisamente aquilo que este post está, as vespas cabras, a chaminé que já não fuma, a segunda feira, os pêssegos atropelados pelo melão: uma sopa de verão.

8 comentários:

  1. Vespas cabras? Com um dedo de comprimento? Espero sinceramente que vivas em África!

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    1. Cuca, tu já viste o tamanho destas vespas?! Bem, eu à distância de segurança quase me sinto em África, de facto...

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  2. Creio que combina :)

    Naquele pic-nic de burguesas,
    Houve uma coisa simplesmente bela,
    E que, sem ter história nem grandezas,
    Em todo o caso dava uma aguarela.

    Foi quando tu, descendo do burrico,
    Foste colher, sem imposturas tolas,
    A um granzoal azul de grão-de-bico
    Um ramalhete rubro de papoulas.

    Pouco depois, em cima duns penhascos,
    Nós acampámos, inda o Sol se via;
    E houve talhadas de melão, damascos,
    E pão-de-ló molhado em malvasia.

    Mas, todo púrpuro a sair da renda
    Dos teus dois seios como duas rolas,
    Era o supremo encanto da merenda
    O ramalhete rubro das papoulas!


    De tarde, Cesário Verde

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    1. Combina, pois. Combina até muito bem.
      Bem-vinda, flor!
      E muito obrigada pelo presente, gostei muito, é lindo e cheio de cor. :-)

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  3. Gosto muito do seguinte provérbio chinês: "As abelhas e as vespas sugam as mesmas flores, mas não sabem encontrar nelas o mesmo mel."

    Um beijinho, Susaninha

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    1. Olá Miss Smile! Espero que as férias tenham sido boas.
      Temos muito a aprender com a sabedoria oriental, pois temos. Muito obrigada, esse provérbio eu não conhecia, já não me vou esquecer dele.
      Outro beijinho, querida Miss Smile.

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  4. Susaninha, ri até às lágrimas ao ler este teu "post". Parabéns pela forma divertida que imprimiste à descrição do melão a fazer uma salada de frutas com as curvas da serra, bem como à aventura das vespas cabras, misturando tudo harmoniosamente!

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    1. Olááá!!! :-)
      Muito muito obrigada por esse comentário tão querido (e generoso)!
      Um beijinho.

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