a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

18/07/2022

Lisboa em obras (de propósito)

Há dias, num topo de telhado estendendo-se a um troço do Tejo ao pôr de um dia de sol quente, houve três ocorrências. Vários participantes do evento responderam que, como eu, não apreciam esse ruído de obras a que os organizadores dos topos de telhado chamam música de disco jóquei. Uma. Duas, encontrei ali terreno propício a uma discussão que há tempos queria trazer para cima de uma mesa: como é o dia-a-dia de um filósofo que não tenha enveredado pelo ensino e olha lá que valeu. E três, à saída do evento desce junto connosco no elevador um americano que torcia as mãos encardidas e repetia, muito ébrio, que esta é a sua hometown e eu não lhe perguntei se a ele os ruídos acutilantes agradaram, não foi preciso. A solidão engana-se de qualquer maneira distorcida, sonora ou líquida. 

Entretanto tive uma ideia: os disco jóqueis, em vez de se meterem em eventos a reproduzir até à loucura a banda sonora da construção de um edifício tipo centro cultural de Belém, iam trabalhar para os mais carenciados aeroportos. 

4 comentários:

  1. Ainda assim uma banda sonora necessária, já as das esplanadas são quase sempre dispensáveis, estragam-nos a vista e muitas vezes o bom humor. Queria fazer uma ode ao silêncio...ou aos barulhos da "natureza natural", já quase não os consigo ouvir...Um beijinho.

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    1. Ah, CC, aqueles sons de marteladas e marteladas a que alguns, poucos, chamam música, é mesmo muito horrível. Não consigo perceber a razão de semelhante coisa. Enfim. Paletes de odes ao silêncio, precisa-se. 😊

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