a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

22/11/2025

Se a aspirina pode

Era uma vez uma farmacêutica muito grande que patenteou a aspirina para quê? Para aliviar uma dorzinha ou outra (consegue várias) e ainda, se a febre nos chegar, fazer baixá-la. 
Os anos passaram e uns médicos expeditos descobriram que a aspirina ainda dá para outra função: tornar mais líquido um sangue com queda para engrossar e formar os indesejáveis grumos sanguíneos.
Ora esses médicos tão reconhecidos foram que patentearam este novo uso da aspirina! Sim, patentear usos também se pode. 
O caso muito polémico do remédio para a diabetes que também combate a doença da obesidade só é feioso porque o Estado Português não tinha ainda concordado em arcar com parte das custas dele para livrar as pessoas desta doença, mas apenas para aliviá-las daquela. Consequência: o fármaco não chega para as encomendas e entretanto encheu os bolsos errados.
Mas pensando bem, o Estado Português vai poder poupar uns cobres por ter menos obesidade e maleitas associadas na população.
A polémica resolvia-se com um senhor aumento na oferta do químico ao mercado, por um lado, e uma revisão urgente da lista dos medicamentos comparticipados, por outro. 
Ou a obrigação das gentes é sempre sofrer e sofrer, meus senhores?

16/11/2025

Ó pá, sim.

Então o que temos hoje?
Temos o Astérix na Lusitânia sob investigação. 
Adquiri o meu exemplar no coração de Coimbra e li-o quase todo dentro da loja ainda sem o pagar. Havia lá uns sofás jeitosos onde leitores e acompanhantes podem descansar os ossos e dar alimento à cabeça.

E foi ali mesmo que decidi iniciar uma investigação baseada numa curiosidadezinha: como raio será que nas outras línguas traduzem o nosso muito querido e abundante "Ó pá"?

Os resultados da investigação já estão disponíveis para dois casos:
_#ocasoespanhol: "Ó pá" não traduzido, simplesmente ignorado,
_#ocasoholandês: idem, idem.

Estamos lindos. 
(mas em princípio continua) 

12/11/2025

Manuel Cargaleiro, chama-se ele

A velha mala azul-sujo apareceu no tapete de entrega do aeroporto de destino carregadinha do Cláudia.
Ou da Cláudia, se esta foi categorizada em tempestade e não na turma dos furacões ou tufões. 
A Cláudia choveu para ali toda na pobre mala à porta do avião e à beira da partida. Dentro dela já não ia o computador, que a tempo retirei. O felizardo viajou no aconchego do meu lugar à janela. 
O problema foi o livro. Como o deixei ficar dentro da velha mala azul-sujo, apanhou a senhora molha da Cláudia, que trespassou em grande para os meus pertences. Coitadinho, vinha ensopado. Um livro que custou caro, está devidamente marcado e sublinhado, anda a estudar comigo há vinte meses e prepara-se para outro tanto e não mais, pois aqui a viajante incauta pretende passar nos exames todos à primeira. 
É o que dá o querido aeroporto de Lisboa abençoar as malinhas que à porta do avião são desviadas para a barriga do mesmo e ficam ao relento sabe-se lá quanto tempo à espera dos handlings, pá. 
Poças.

(Manuel Cargaleiro é o nome do avião, um A320 neo, para o caso de interessar)