a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

22/04/2013

La vie est belle

Quando cheguei à sala de embarque para mais uma das muitas viagens aéreas que hoje em dia faço, procurei-os com o olhar. Não os avistei. Nem o Artur nem o Panpan. Seria uma sorte voltar a poder conversar com eles e ouvir mais das suas histórias. Contei que o Artur acha que a Holanda parece um jogo vista de cima?

Desta vez tive por vizinhos três barulhentos hermanos aqui da vizinha Espanha. Fizeram muito má vizinhança. Soltavam gargalhadas desmesuradamente sonoras a cada sílaba que um dos outros dois dizia. O que vêm eles fazer a Lisboa, os tolinhos?

Bem, mergulhei na revista que tinha acabado de comprar no aeroporto. Interessam-me estes artigos semi-científicos sobre os mistérios do cérebro humano, coisa a roçar a psicologia que me tem proporcionado bons momentos de leitura.

Quando interrompi já íamos nas alturas, mais precisamente na altura das vendas a bordo (serviço inútil que alguém se esqueceu de eliminar dos voos); interrompi para me agarrar à revista de bordo. Queria verificar o preço de um perfume - o meu - e tentar descobrir alguma utilidade naquela coisa do carrinho-a-passar "on board sales". Mas o meu perfume já não vem na lista de vendas, tem muitos anos disto.

Ninguém compra nada. Este serviço é quase tão desgarrado como aquela parte da apresentação das medidas de segurança - seja em filme, seja em demonstração humana - em que era capaz de jurar que sou a única a dar atenção. Eu e talvez as crianças. As mais novas.

A caminho de descobrir que o meu perfume está para lá de fora de moda, deparo-me com a Julia Roberts e o seu novíssimo "La vie est belle", parece que o nome é este. Em francês. Li a entrevista toda enquanto o carrinho-a-passar passou.

Descobri que a Julia, para além de ter participado na concepção do "La vie est belle" (ou será "La vie en rose"?) - só assim aceitava fazer a campanha, também acredita que se as pessoas seguirem a sua bússola interior, encontram mesmo a felicidade. Mesmo.

E não é que eu concordo terrivelmente com ela?

Se um dia me entrevistarem para a revista da TAP (a propósito, hoje o avião era o Natália Correia, nada a combinar com a Julia Roberts), também vou falar nisso. Mesmo sem perfume.

De regresso à revista que tinha comprado no aeroporto, fiquei também a saber que para se ser feliz - e caso a bússola interior esteja desnorteada - há que aprender a viver mais o momento presente e travar as preocupações com o futuro, ou então parar de invocar o passado. Ao que parece há dos dois tipos de distracção da felicidade, cada qual escolha o seu.
Garantem os entendidos que se se fizer isso, uma espécie de meditação simplificada centrada no aqui e agora, nada mais, equivalente a exercício físico, mas da mente, a coisa vai lá. E La vie est belle ou então en rose.

Com toda esta literatura em digestão mental, pus os pés de volta ao aconchego lusitano a pensar na Edith Piaf. Ela cantou uma das músicas mais lindas para inspirar o que quer que seja.

Porque será que no caso dela a vida não foi nada en rose e nada belle?



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