a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

10/10/2014

Nada científico

O meu problema não é acreditar no que me dizem.

O meu problema é estar debaixo do chuveiro, abrir o frasco do gel de banho, pensar que frasco parece aplicar-se a vidro e o do gel de banho é invariavelmente de plástico, mas isto não passa de um detalhe nada científico embora ligeiramente irritante, e lembrar-me das promessas de sensação de frescura, de relaxamento com mel de amêndoa ou outro mel qualquer, de experiência suave e aveludada, se bem me lembro com um toque de pérolas de abacate, que de pimento vermelho não é, até o estado zen já para aqui é chamado e isto para não falar no roçar subtil do tema sensualidade, vejamos bem, sensualidade, o desplante; em suma, construírem sem pestanejar, esses rapazes do marketing, uma expectativa de momento transformante envolvente e depois nada. Mas como uma pessoa debaixo do chuveiro está com pressa para ir para o trabalho, vai sem pérolas de abacate, sem mel e sem amêndoas, vai nada sensual e nem dá por isso, não é?

É certo que o creme deslizante tão bom para a pele não cheira a elefantes, embora eu goste do cheiro a elefantes mas isso sou eu, nem a peixe, deste já não tanto, aquilo até cheira bem embora ninguém saiba a quê, o que sinto mesmo, vamos lá a levantar o véu, é a água quente a escorrer-me pela pele, bem podem vir os cremes todos que quiserem vir. Sabão azul e branco também era capaz de dar o mesmo resultado que é a pessoa, qualquer pessoa, ficar bem lavada. Mas o meu problema também não é isto, aliás o problema nem é meu.

Já se percebeu, não já? É a deixa para a companhia das águas. Isso sim, câmaras municipais, a acordar, vá lá ver! É acrescentar na factura, oiçam isto, ao lado dos consumos ao metro cúbico ou ao litro, agora é que não sei, as promessas das quenturinhas que oferecem às pessoas mesmo ali na aurora dos dias, no construir da beleza diária, que cada um tem a sua, isso vê-se bem em todo o lado, a água cristalina que acabou de passar por ali e os efeitos que deixa, e depois então o suminho de laranja e o café com torradas, não sei quê, ou então o relaxar ao final do dia, aí já se pode carregar ao de leve na sensualidade, vá lá coragem, há uma imensidão de hipóteses giras, até podem juntar uma fotografiazinha, na internet há muitas e são de graça, é só dizer que vem de lá e está tudo bem.

A ver, não tinham pensado nisso, pois não? Aposto que a intervenção criativa até vos vai libertar dos atrasos nos pagamentos e consequentes custos adicionais, é experimentar. E vai-se a ver o problema deixa logo de ser vosso, hã? Uma riqueza.

(queria dizer que não gosto da voz do Ricardo Carriço, mas como não ficava bem no texto nada científico que se lê acima, vai aqui e vai muito a tempo)

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