a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

05/03/2015

Para não derreter as peças

Hoje estava imbuída de uma animação especial para o final do dia, que era vir aqui ao blogue escrever coisas muito inteligentes sobre o conteúdo do jornal Público comemorativo, situação para encantar as massas, mas eis que houve alguém que se me adiantou e eu assim tanto não seria capaz, problema meu, verdade, portanto como estou aborrecida vamos ao museu de cera bocejar até mais não.

Ai não?...

Então que se faz precisamente num museu de cera, pode saber-se? Reflictamos lá honestamente para que serve um uáááá (eu não disse?) museu com bonecos de cera do tamanho uáááááááááá (disse) de pessoas crescidas?

Foi precisamente quando a meia solha que me foi dada a comer hoje ao almoço estava estendida, toda espalmadinha, no meu prato à espera que eu me inspirasse para o ataque, que dou conta de que estou embasbacada a olhar para a televisão pendurada na parede do fundo da cantina (hoje cheirava a bifes de porco), ai meu deus que é isto, dou conta de que o ministro grego das finanças veio a público já diversas vezes desmentir repetida e veementemente a crença que eu tinha sobre os gregos serem todos feios.

- Este grego é giro – quem estava ali perto até pôde ouvir-me dizer isto, a mim, uma mãe de família agastada pela solha a cheirar aos bifes de porco que os meus colegas mastigavam com dificuldade apesar de tentarem disfarçar. E, já agora, não custa nada acrescentar, aposto que pela cabeça inteligente da Lagarde, entre uma transformada de Laplace e uma série de Fourier, o mesmo pensamento também já passou.

Não interessa.

O que interessa é que os museus de cera são totalmente inúteis.

Mas eu não deito fora uma coisa destas, instituição com tantos anos de experiência e implantação em países de respeito - até confesso com certo rubor na face que já me viram num Madame Thussauds quando eu era muitíssimo nova, novíssima - não deito a ideia fora, dizia, sem apresentar uma solução cabal para o problema (em quase trezentos posts deste blogue nunca tinha escrito cabal), ou seja, não atirar para o desemprego quem se dedica a manter a temperatura das salas suficientemente baixa para não derreter as peças, a limpar-lhes o pó aos cabelos ou a vender os bilhetes aos visitantes.

O investimento gasto nesses museus havia de ser aplicado em instituições para abrigar e acompanhar quem sofre de violência doméstica e não sai de casa porque não tem para onde ir. Mas não só. Uma fatia havia de se destinar a acompanhar e tratar os agressores. Só assim se toma o assunto com seriedade. E ainda se dava trabalho a uma valente equipa de psicólogos e outros profissionais de apoio. Era o que eu queria.


E depois suspirei e pus-me a ouvir isto.

8 comentários:

  1. :)))) Esta tarde quando li o Xilre sobre a matéria, pensei: a Susana não vai gostar nada disto.

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    1. E que bem pensaste, JM! Não tive golpe de cintura suficiente, atrasei-me no manusear da pena e zás. (mas com o Xilre é impossível competir, evidentemente) :-)

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    2. Vou dizer isto querida Susana, não se pode subtrair ainda mais à cultura, e à arte, seja ela ignóbil ou inútil, para a acorrer a problemas sociais que já têm a sua fatia, parca, mas fatia. Eu sei e até sou assistente social, que há muito dinheiro mal gasto em calhaus com olhos e homens de cera. E eu percebo-te que também há coisas que me fazem sono, e outras, como essa da violência, revoltam-me! Um abraço Su.

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    3. Ah Uva, eu sei! E se este país tem problemas de dinheiro mal empregue! Também já quase me emocionei sentada numa cadeira indecente no Teatro Nacional de São Carlos, a ouvir Ópera e a doer-me o rabo... Enfim, não se pode solucionar tudo, mas a violência doméstica aflige-me, a nossa casa devia ser o nosso aconchego.
      Outro abraço, Uvinha.

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    4. Deixei-me levar pelo entusiasmo de ter conseguido arranjar o jornal no meu fornecedor dilecto, foi o que foi. E o dito entusiasmo derreteu-me as peças da máquina de pensar -- não se dera esse caso e ter-me-ia ocorrido que poderia estar a obstar a Susana de escrever sobre o tema. Assim, fico-me a pensar no que faria a palaciana Lagarde com um laplaciano. (Não é o melhor trocadilho do mundo, mas é passável :)).

      Boa noite cara Susana e caro JM. :)

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    5. Não se preocupe, amigo Xilre, eu compreendo perfeitamente e acho que o assunto ficou em muito melhores mãos, ficou ficou. Mas da próxima não pense que me vou pôr p'raqui a divulgar tesouros e a dar o ouro ao bandido, hã? (passo a expressão, com todo o respeito)

      Quanto ao trocadilho... hum...acho que até a Lagarde ia gostar... palaciana não é qualquer uma.

      (e relativamente à sua máquina de pensar... acho que não preciso de comentar, toda a gente vê)

      Boa noite, caro Xilre :-)

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  2. Pode ter feito cera com o texto, mas os comentários estão de truz, Suzaninha !!! :)
    Jinho

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    1. Fiz cera com o texto, mas da boa, ainda não derreteu. :-)
      Os comentários reflectem a superioridade de quem anda aqui. Tenho muita sorte, M D!
      Beijinho, bom fim de semana.

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