a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

28/04/2015

Luvas quase brancas de algodão

Claro que não é muito bonito aproveitar-me do furo do vizinho do quarto andar para escrever uma peça destas, mas tipo nem tudo o que eu faço é muito bonito, de maneira que paciência.

O vizinho do quarto andar embirra com a minha arte de estacionar na garagem no meu muito lugar (do inglês in my very place) e diz nas reuniões de condóminos que as pessoas, as pessoas sabemos os dois que sou eu, não devem ter medo de bater na parede, mas eu tenho medo de bater na parede e ele então, se me apanha a chegar, faz-me sinais extraordinários com as mãos, pode ir mais, pode ir mais, pode ir mais o tanas, o lugar é meu.

Ou seja, nem tudo são rosas na minha vida e ainda falta referir a gracinha que ouvi quando troquei de carro e ele no meio da vénia, cumprimenta as pessoas com uma vénia, os seus carros são sempre, cara vizinha, pausa para sorrir, digamos, são sempre sui generis. É que eu também sou assim, sui generis, gosto muito, caro vizinho.

Mas hoje ao chegar a casa é que foi. Encontrei-o no estacionamento exterior, eu a passar para a garagem, vejo-o de luvas quase brancas, parecem de algodão, e o vizinho aos saltos em cima da chave de cruzeta para desaparafusar o pneu da sua carrinha Mercedes preto luzidio, o pneu tem a barriga deitada no chão. Parei o carro, saí.

- Precisa de ajuda? – aproximo-me para averiguar melhor o material de que são feitas as luvas. Algodão.
- Não, obrigada.
- Afinal os meus carros é que são esquisitos, mas o seu é que …. ah, mas este pneu está gasto (gosto muito de verificar pneus).
- Tenho de lhe pôr pneus novos, tenho, o meu filho é que anda com a carrinha, mas meteu-lhe ar, encheu-o demais e o pneu abriu, ó. (na ilustração vê-se que a sua luva aponta para uma fenda no pneuzorro, que isto é um pneuzorro, e eu baixo-me para ver ainda melhor a luva)

Deixei-me então estar a fazer conversa sobre sítios bons para trocar pneus gastos por novos até o ver saltar em cima da cruzeta o suficiente para remover os cinco parafusos e só depois, tenha então um bom resto de dia, caro vizinho.

De modo que entro em casa com a certeza de que na próxima reunião de condóminos não se farão ouvir piadinhas sobre pessoas que têm medo de bater na parede ao estacionar ou então servir-se-á alegremente uma observação sobre a singularidade de se trocar pneus com fendas abertas, resfolegantes, calçando luvas quase brancas de algodão.

10 comentários:

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    1. Olá Sónia, bem-vinda! Espero que sim. :-)

      (estive a ver o teu novo blogue e, embora fora do meu habitual leque de interesses, gostei muito, está bonito)

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  2. Olá Susana!
    Sabes, acho que não te livras assim tão facilmente das piadinhas, a diferença é que agora já tens uma observação para servir alegremente.
    Beijinhos, Susana.

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    1. Querida Cláudia, tenho de confessar que é um gosto ter-te por aqui. O blogger sabe disso e replicou o teu comentário. :-) (mas eu apaguei-o)

      Quanto às piadinhas, enfim... no fundo acho-lhes graça e dão bons temas para posts, vês? :-)

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  3. Seria para confirmar que o pneu estava mesmo furado? É que o algodão não engana. ((;

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    1. ah..... pois era,,,, como é que eu não pensei nisso?!
      :-) bom fim de semana, Carla, com boas marmeladas. (acertei ou desta vez é goiabada?)

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    2. A ser, será doce de maçã com nozes ou com amêndoas - depende das encomendas. (:

      Bom fds, Susana!
      (que giro que está o blogue, só vi hoje. é o que dá ler no feedly...)

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    3. Bom fim de semana e boas doçarias. Hum. :-)
      (Obrigada, Carla! )

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  4. Achei interessante o pormenor das luvas quase brancas de algodão, quase visualizei a cena e adoraria ter essa 'pérola' na minha coleção! ;))

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    1. Maria, foram as luvas de algodão, de uma cor crua que não sei definir, que me fizeram escrever um post. :-)
      Uma das coisas que mais gosto na vida é constatar como somos todos diferentes. Boa semana.

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