a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

23/05/2015

Bofetadas nas pétalas com as patas peludas

Primeiro a semana acaba, depois entro no supermercado. Levo a sensação de missão cumprida colhida mesmo ali na saída de emergência de muitos dias de trabalho que não me levaram a melhor, mesmo assim. Sei que estou baça e engelhada nesta sexta feira e desconfio que apenas caminho em linha recta se me imprimir esforço. Talvez por isso uvas e cerejas, finalmente cerejas, se tenham encontrado no tempo e no cesto que carrego na mão pelos corredores. Falta o vinho, mas por forma a polarizar totalmente a minha gula por fruta, tiro uma caixa muito bonita com pouquíssimas azeitonas gourmet e desta vez também vai sumo para as miúdas.
Subtraio-me em poucos minutos à superfície comercial que não é grande e enfio-me no carro para seguir rumo a casa. Antes de virar na última rua, passa-me ao lado esquerdo uma família de orquídeas na esplanada da florista do bairro; há-as em rosa total, rosa velho completo, rosa seco com notas de branco, branco limpinho com um toque de sol. Claro que o lugar de estacionamento, vago, à porta destas obras delicadas fez o resto. (As uvas e as cerejas continuam, admiradas, o seu encontro no tempo e agora no saco de compras.)

- Boa tarde, quanto custam as orquídeas?

Diz-me a expectativa que posso estar prestes a ouvir doze euros mas como trabalhei que nem uma mula nestas últimas semanas, acalento a esperança de merecer que sejam oito, oito euros, minha senhora (senhora, porque estou um caco estilhaçado tal como já expliquei).

- Vinte e cinco euros, minha querida.

O minha querida é uma merda porque me bloqueia o bom senso necessário para fugir dali, digamos, ontem. Sou sensível a estas porcarias e deve ser por isso que não hei-de enriquecer nunca.

- Levo a das notas de branco.

Dez minutos depois, em casa, abri a caixa das uvas e por vingança comi vinte e cinco.


(as flores são para oferecer à minha mãe no domingo, mas entretanto lembrei-me que os seus dois gatos são capazes de as querer mastigar, dar-lhes bofetadas nas pétalas com as patas peludas ou então jogar às escondidas atrás das belezuras e portanto estou apreensiva; uma fortuna destas)

10 comentários:

  1. Talvez os gatos respeitem as mais caras :)

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    1. Ai Cuca, isso dá-me esperança, que tu és miúda para saber tudo sobre misticidades dos seres! :-)

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  2. O meu gato respeita-me as flores, já as cerejas se calha cair alguma ao chão é brincadeira na certa :)
    Bom fim-de-semana, Susana

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    1. Que bom, Té. Eu queria mesmo isso, uma palavra experiente, obrigada.
      Assim vou confiante com o vaso na mão e deixo as cerejas em casa. :-)

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  3. ...eu não confiaria nos gatos: gostam de brincar com euros pendurados em delicadas hastes...
    Ah, e uma vez acordei com uma cereja na cama.

    Bom Domingo, Susana, nunca tinha dado aqui uma "arranhadela", mas venho com frequência espreitar, e gosto bastante.

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  4. Oh, que bom ter cá vindo "arranhar", Teresa!
    Se os gatos não estiverem à altura de deixar tão delicadas hastes em paz, voltam as flores comigo para casa. :-)
    Bom domingo, Teresa. (eu fui uma vez aos Atalhos de Campo mas depois quando voltei bati com o nariz na porta e agora acabo de ver que está disponível outra vez! :-))


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  5. Cerejas, uvas, vinho (mesmo em falta, fica a lembrança), orquídeas...
    No fundo, no fundo, as cerejas foram substituídas pelos gatos no topo do bolo. :)

    Um bom domingo!

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    1. Olá AC, seja bem-vindo!

      Eu espero que os gatos no topo do bolo não signifique os gatos no topo das orquídeas (carérrimas). :-)

      O vinho não faltou, que eu meti-o no cesto.
      Boa semana, AC.

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  6. Com tudo isso que foi dito, espero que tenha sido um domingo bem passado

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    1. Olá Benó, bem-vinda! :-)

      Foi um domingo muito bem passado, os gatos atiraram-se ao laço que envolvia o vaso da orquídea e não à flor, uma sorte.

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