a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

24/02/2016

Animais imaginários, a televisão, a loiça e mais um post fofinho

O que devia fazer chama-se arrumar-a-loiça-da-máquina e de sobrenome colocar-dentro-a-suja. Mas tenho é muitas saudades de escrever. Hoje pensei, à tarde, enquanto ia trabalhando numa coisa aborrecidíssima dos santos correia, que escrever é uma vaidade da conceição, um egoísmo da silva, uma necessidade do narciso, neste caso eu rodrigues. Mas depois bati os olhos no camelo amarelo de massa que declara amor ao Qatar desde dois mil e treze e esqueci-me logo disto ao ver as pernas do camelo por colar, continuam partidas desde que o cabo do rato o deitou ao chão, o meu rato com-fios, aliás com-fio, e vou daqui num instantinho para o telefonema de ontem para casa da minha irmã, no qual ouvi correr a coleção de animais pela voz gritada do meu sobrinho pequeno, os gatos que bincam com os mínimos (os mínimos são umas coisinhas amarelas que já inspiraram um filme e eu não sei o que fazem porque já tenho filhas em idades médias), quantos gatos são, Rodrigo?, estes (a ilustração de estes alguns dedos de Rodrigo mostraria, não saberemos quantos), o leão morreu, tia, e o tigue t'á estagado, tem c'arranjar. tens que arranjar o tigre para ele não morrer também, claro... não!!! 'magináios, tia!!!! é o que me grita de seguida, para esclarecimento. Animais imaginários recomendo a quem ainda tenha filhos em idades mínimas, os imaginários saem muito em conta mesmo que morram de vez em quando. Mas muita sorte tenho eu, era aqui que queria chegar, em não ser seduzida nem ao de leve pela televisão. Quer dizer, oiço as notícias do canal um enquanto preparo o jantar e, se calha ser cedo, também oiço o Preço Certo. Gosto muito do Preço Certo. Ver aquelas senhoras felizes, no fim, a pedirem beijinhos ao Mendes, qualquer coisa Mendes, mesmo que não ganhem nada as senhoras, ganham os beijinhos, aquilo sim é programa nacional, luso, genuíno, somos nós, tem chouriços e lembranças da terra. Quando eu for velhinha já não se vai usar ser velhinha, mas não vamos pensar nisso agora para eu poder continuar a escrever mais um bocadito, quando eu for velhinha sei lá se depois de ler todos os livros que fui amealhando para a minha reforma não me dá para ir adivinhar preços para a televisão se ainda houver televisão; beijinhos é que já não posso garantir que vá pedir.
Mas dizia eu, antes de me perder com o Preço Certo, que tenho sorte de não ver televisão porque poupo um bocado de tempo, embora pouco. Ainda não chega, está à vista, para a chamada loiça-suja-na-máquina depois de a-lavada-arrumada.

É Fernando. Fernando Mendes.

(entrou este post fofinho para fugir de escrever inadequadamente sobre as novidades relacionadas com Hitler)

8 comentários:

  1. Primeiro que tudo, maravilhoso este texto.
    Penso que este é um dos abrigos perfeitos para se fugir de novidades relacionadas com Hitler e outras que tais, ou não morasse aqui alguém que tem um "camelo amarelo de massa que declara amor ao Qatar desde dois mil e treze", é pessoa para eu confiar de olhos fechados. Fui ver os mínimos, amarelos, também, aproveito-me despudoradamente de crianças em idades mínimas para ver todos os desenhos animados que me apetece. E vejo televisão, e é verdade que a televisão pode ter um efeito hipnótico, então, se nos dá para ver um foco de interesse em tudo, podemos ficar ali assim, e lá se vai a roupa e os tachos e o livro para ler e, e, e...
    Mas, acho que "o verdadeiro problema", Susana, é isso de cair em poesia, repara, acho que caíste em poesia durante o Preço Certo, eu também sou menina para cair em poesia se passar pelo Preço Certo, que é serviço público, pois se faz senhoras felizes, e quem sabe não estão elas também ali a fugir um bocado naquele abrigo do senhor que não nega beijinhos a pedido. Talvez o "problema" seja a facilidade com que caímos em poesia, digo nós, porque eu também caio, não consigo fazer um poema, mas volta não volta lá caio em poesia.
    (Aqui para nós, acho que este "problema", é, ao mesmo tempo, solução. Já o tempo, esse, é que sem poesia nenhuma faz questão de deixar bem claro: olhem que não chego para tudo)

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    1. Maravilhoso é o teu comentário, Cláudia (o post achei-o tão parvinho que esteve quase para ir para o lixo) :-)
      Eu vi tantos desenhos animados, tantos, tantos, com as minhas garotas, que um dia quando tiver netos não sei como vou fazer para aguentar outra dose :-) (já dormi muito no cinema, eu).
      O verdadeiro problema, acho eu, que não sou psicóloga como tu deves ser :-), é o que nos faz cair em poesia. Acho que a nossa sociedade sofre de solidão. Basta ir a um centro de saúde e escutar e observar o que lá se passa na sala de espera, está carregada de pessoas sós, vão ali para ter alguém que olhe por elas, que as oiça na consulta. As senhoras (e homens) que vão ao Preço Certo, quanto a mim, também revelam essa solidão, essa ausência de carinho e de verdadeira companhia da alma. Por isso caio em poesia (mas que expressão tão boa!) ao vê-las (los) ali a bater palmas e aos saltos de alegria, como crianças, porque estão na televisão e recebem beijinhos do Fernando Mendes, pessoa que, devo dizer, merece muito, muito, do meu respeito.
      Obrigada por me vires aqui pôr flores no blogue, fazeres com que o teu tempo dê para isso, querida Cláudia. :-)

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    2. Susana, venho cá dizer-te, primeiro, que não sou psicóloga nem nada que tenha a ver com essa área :-). Depois, insisto, o texto é maravilhoso. Para mim, o motivo é ter aquele extra que está para além da composição, o extra, é a qualidade humana, o exemplo, é precisamente este, teres escrito sobre o Preço Certo da forma como o fizeste. Este é o tipo de pormenor que, para mim, faz toda a diferença. Penso que tens toda a razão quanto a essa questão da solidão e no "diagnóstico" da que causa maior mossa, ausência "de verdadeira companhia da alma." Por isso penso que, pelo menos, durante o tempo em que estão a participar no programa se sentem integrados, a fazer parte de, portanto, em verdadeira companhia de almas. Acho que há espaço para tudo, e que é bom que existam coisas para todos os gostos para que todos se possam identificar, detesto que se ponham a ridicularizar, a menorizar as pessoas por aquilo com que se identificam.
      Muito obrigada por isso das flores (que mania tão boa essa de ver flores em todo o lado :-)). Espero que já não andes acompanhada pela tristeza e que tenhas uma muito boa noite. Beijinhos, Susana.:-)

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    3. Cláudia, que palavras tão boas outra vez :-). É muito bom recebê-las.
      Partilho totalmente desse desprezo à ridicularização dos outros com base no que eles apreciam (ou em outras situações). Aliás, nesses casos tenho muita dificuldade em não defender o atacado.
      E enfim, gostava de ver as pessoas menos sós. As almas mais acompanhadas. Principalmente as que já estão mais para o fim da vida.
      Mas acho que és um bocadinho psicóloga, sim :-), e acho que este tema podia manter-nos aqui a conversar muito tempo.
      Um beijinho, querida Cláudia.

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  2. quais são as novidades do hitler? a lenka ainda aparece? um destes dias vi o noticiário, aos 17 minutos já só se falava de bola...

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    1. Manel, as novidades relativamente a hitler estão aqui:

      http://observador.pt/2016/02/23/falta-um-testiculo-um-penis-deformado-origem-das-frustracoes-hitler/

      sim, de facto a bola enche muito os noticiários... mas ainda bem, assim podemos desligar a televisão nesse preciso momento.
      :-)
      lenka?...

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  3. Chegando agora
    e vou ler tudo que
    puder e depois voltarei
    para comentar de fato.
    Ja seguindo aguardo sua
    visita la no
    Espelhando.
    Bjins
    Catiaho Alc.

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    1. Olá Reflexos. Obrigada pela visita.
      Um abraço e boa semana. :-)

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