a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

05/03/2017

Duzentos e setenta e oito quilómetros por hora, e a viatura

(enquanto me passeio de comboio, a Alemanha passa muito depressa na minha janela - de acordo com o ecrãzinho junto à carruagem-bar passa a 278 km/h, e eu conto uma história que já fez rir muita gente)


Saiu do bar já de madrugada sabendo-se, como tantas vezes depois de uma noitada com amigos, bêbedo. Porém, sentindo-se protegido pelo hábito, mete-se no carro e começa a conduzir para casa. A meio do percurso, depara-se com uma operação stop, especialmente instalada para detetar condutores alcoolizados, isso é certo. Foi mandado parar, parou. Um dos polícias ou, vamos dizer corretamente, um dos agentes da autoridade ordenou-lhe que saísse do carro para que fosse submetido ao famoso teste do balão, precisamente o teste que ele não estava interessado em fazer. Mas, no momento em que está fora do carro, pensando que o teste vai ter maus resultados, dá-se um acidente ali mesmo, uns metros mais à frente. Os agentes da autoridade pedem-lhe para aguardar um pouco, "não saia daqui, nós já voltamos", e correm ambos para o local do acidente. Vendo-se só, ele e o seu índice de álcool no sangue, candidatando-se a punição certa após o regresso dos dois agentes, toma a decisão: mete-se no carro e segue para casa.
Na manhã seguinte, dois agentes da autoridade, muito provavelmente os mesmos, tocam à campainha da sua moradia. Ele vai abrir e, ao vê-los, pensa “agora já não me apanham”.
- Bom dia. É o Sr. Almeida de Sousa?
- Sou sim.
- Muito bem. O Sr. Almeida de Sousa pode dizer-nos onde está a sua viatura, por favor?
- A minha viatura?...
- A sua viatura.
- Está aqui, na garagem.
- Podemos ver a viatura, por favor? – perguntam os agentes.
- Com certeza, vou abrir o portão.
Almeida de Sousa apanha o comando de abertura do portão que está na mesa da entrada, pergunta-se por que razão quererão os agentes visitar-lhe a viatura, aponta o comando para o portão da garagem anexa à moradia e pressiona o botão. Enquanto anuncia aos agentes “aqui está a minha viatura”, o portão vai abrindo e mostra que lá dentro, estacionado, está o carro da polícia.

(embora não pareça, a história é mesmo verdadeira – à exceção do nome do protagonista, claro)

14 comentários:

  1. Diria que é um caso em que as circunstâncias quase que dispensariam o teste do álcool. :)))

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  2. Para tamanha bebedeira nem imagino o tamanho da multa... :))

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    1. Bem, não houve multa... Os agentes nunca podiam ter abandonado o carro deles, com armas e tudo dentro. De forma que ficou tudo assim, "amigos como dantes" e não se fala mais no assunto... (para eles foi um alívio recuperarem o carro sem problemas)

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  3. mas àquela hora, já passava no teste :)

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    1. Àquela hora já, mas não foi preciso teste. Resolveu-se assim mesmo, dê cá o nosso, tome lá o seu. :-)

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  4. nem tenho o que dizer. abençoado raciocínio que o trespassou no momento: guardar a viatura dos senhores agentes, não fosse alguém mal intencionado fazer-lhe mal enquanto eles se dirigiam ao local do acidente. uma pessoa que raciocina desta maneira com o sangue "desinfetado" com tanto álcool, imagino como será, limpo de substâncias tóxicas. :))
    boa semana, Susana,
    Beijinhos,
    Mia

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    1. Pois deve ser mesmo uma pessoa muito lúcida, só pode. :-)

      O que mais me admira é ele conseguir conduzir sem qualquer incidente mas ao mesmo tempo sem se aperceber que está a levar o carro errado.

      Uma boa semana, Mia, e outro beijinho.

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    2. a história é hilariante. não reparar no interior todo "artilhado"! conseguir estacionar na garagem e não dar conta da diferença!!! :))) olha se lhe dava para acionar o tinóni... era de sonho! tinha sido uma comédia/tragédia à portuguesa!
      beijinhos, Susana. Como é que está o tempo na Germânia?

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    3. Por ser tão hilariante, não podia deixar e a contar :-)

      Está chuva e lá em cima nas montanhas muita neve. Mas como não há vento, não se sente propriamente o frio, nem mesmo com a neve a cair-nos em cima. :-)

      Beijinhos, Mia.
      (aquela tua lenda é absolutamente verdade... e por isso tão bela)

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  5. Aquilo é que foi uma surpresa para o senhor Almeida de Sousa!...

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