a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

01/08/2018

Quatro rodas

O homem que está a reparar o telhado da nova casa perguntou-me, na pausa (dele) para o café oferecido por mim (tomar nota por favor), se a minha bicicleta não tem por acaso quatro rodas. A pergunta ficou no ar ilustrada por um sorriso lateral todo ali, os olhos azuis semicerrados num divertimento, o cabelo em desalinho condizente com as roupas pingadas de tinta e/ou cal, suponho. Eu disse-lhe que a pergunta dele era bastante engraçada, mas que a minha bicicleta tem apenas duas rodas. Grandes. Porém ele achou-se ainda não satisfeito e, mantendo a olhada incisiva, indagou se eu já sabia andar de bicicleta ou aprendi aqui (na Holanda), acrescentando que segundo ele no meu país as pessoas não aprendem a andar de bicicleta. Foi então preciso esclarecer o Senhor Divertido que em Portugal toda a gente sabe andar de bicicleta desde cedo. E bem. E ia acrescentar que também sabemos todos nadar e fazer perguntas mais, digamos, adequadas. Mas depois... oh, para quê?, e deixei ficar assim.

(É capaz é o café da pausa de amanhã atrasar-se bastante. Ou vir muito forte. Ou frio. E é se vier.)

2 comentários:

  1. Ups!...Talvez o "Senhor Divertido" possa ser perdoado, talvez possa continuar a beber o café da pausa nas melhores condições...agora vou contar isto, ai que vergonha e assim... é que, tenho uma embirração, bem, só assim um bocadinho muito grande, com bicicletas, não adorasse andar a pé, que é o meu meio preferido de deslocação, sempre que a distância não impossibilita, claro, e seria uma pessoa pouco amiga do ambiente, mas, bicicletas, ai bicicletas...
    Então, tendo estado, no início do mês que acabou de passar, na capital do país do "Senhor Divertido", o que eu praguejei, bem, praguejava e ria, é certo (olha, Susana, e não é que, feita "Senhora Divertida", eu), mas lá que praguejava, praguejava, "mas que coisa dos infernos esta cidade! é linda, são lindas as flores por todo o lado, é um estar sempre a tropeçar em postais que estão fora do cartão, mas que confusão insuportável, horrível, isto! Ai, que lá vou ser atropelada por cinco bicicletas ao mesmo tempo, (o que vale é que eles são absolutamente maravilhosos a desviarem-se de obstáculos, parece que já nascem a saber dominar bicicletas), quero Portugal, quero Portugal!...

    Perdoas-me Susana? tu e toda a gente da minha terra? É que, se o mundo é pequeno... a Holanda é muito mais...quem sabe se o "Senhor Divertido" não terá passado por mim na sua bicicleta...

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    1. "é um estar sempre a tropeçar em postais que estão fora do cartão" é lindíssimo, Cláudia, eu até acho que isso é poesia. E verdadeira!

      Mas noutros lugares fora de Amesterdão (sabes que a capital capital da Holanda é Haia, mas para todos os efeitos Amesterdão ganha, claro), noutros lugares, dizia, a probabilidade de sermos atropelados por cinco bicicletas é muuuito inferior. :-)

      Não estás perdoada porque não há nada a perdoar (e eu que não gosto de andar - muito - a pé?), evidentemente! :-)

      Entretanto informo-te que o Senhor Divertido confessou que agora não anda de bicicleta porque só tem uma de montanha e o lugar onde ele vive é "plano como uma panqueca", para usar as palavras dele traduzidas por mim do inglês. :-)

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