a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

10/04/2019

O roubo

Inesperadamente, notei as bananas e simpatizei logo com elas. Todas. Na própria rua do hotel há-as por aquele subir, no meu caso ofegante, longo até ao fim. Dá uma tendência de esticar o braço e subtrair de lá uma, pelo menos a mim. Uma pessoa vem de Lisboa para isto: a lindeza de cachos à beira do alcatrão plantados e não só. As bananeiras cansam-se nitidamente de tanto peso carregar, que aquilo não deve ser pera doce, embora a parte do doce seja, a da pera é que não, uma coisa é uma pera outra coisa é uma banana, de modo que alguém lá havia ido acudi-las atando-as umas às outras pelo tronco com umas senhoras lonas para que se apoiem mutuamente no seu próprio existir, parece. Ficaram direitinhas. Eu acabei por não esticar braço nenhum, deu-me uma vergonha. E daí ter-me contentado com a ocorrência mental do roubo. Que não se faz.


4 comentários:

  1. É tão bom apanhar fruta assim, na rua ou num ramo que saiu do quintal e está ali mesmo à nossa frente. Não creio que seja pecado quanto mais roubo:)
    ~CC~

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    1. Pois é.... por isso é que eu queria apanhar uma banana tão linda, toda verdinha assim...

      Amoras já roubei e figos também, isso já. Mas foi do Continente, quer dizer, de Portugal Continental.
      Boa semana, CC :-)

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  2. Não se faz, mas pode-se escrever a vontade de o fazer.

    mz

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    1. Olá mz, há quanto tempo!

      É tão bom escrever...

      (e ler este seu comentário também foi bom)

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