a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

03/04/2019

Pescadinha de rabo na boca (se não é parece)

Faltava meia hora para fechar o supermercado que fecha em último lugar aqui nas redondezas e saímos de casa à pressa, a minha filha Saminhas e eu, para lá irmos abastecer-nos de produtos que aliviassem a má-disposição que nela se instalara sem se saber nem como nem porquê. Na garagem do prédio, encontramos a nossa vizinha do terceiro que vinha a chegar, e que é companhia deveras agradável tanto para mim como para as minhas filhas, ou seja, parámos a pressa. Ela trazia novidades, como já é de seu hábito e, entusiasmada e luminosa, fala-nos da sessão a que tinha acabado de assistir sobre a obra de Kafka chamada “Metamorfose”. A minha filha iluminou-se acima da má-disposição que levava num sorriso contente por poder dizer “ah, eu li esse livro!”. A nossa vizinha, não me recordo se já inventei um nome para ela aqui no blogue, só me lembro que já nela falei umas vezes, disse, entre outras coisas, uma que eu retive: o orador que discursava sobre a obra declarou-se não grande apreciador desta por ser uma pessoa solar e na obra haver muito pouco de sol, digamos. Não sei se foram estas as palavras da vizinha, mas “solar” sei que ela proferiu. Isto foi no domingo e como queríamos chegar ao supermercado ainda em estado de aberto, não explorei mais o assunto.
Hoje, três dias depois, saio à hora do almoço para a reunião no meu cliente Mais Novo e noto o sol na rua e em todo o lado (uma alegria). Pensei cá para dentro de mim que é tão boa a ideia de me poder também afirmar Solar, agora até vai com maiúscula, quando for de novo acusada de estar sempre bem-disposta e claro que sem razão, como já me aconteceu umas quinhentas mil oitocentas e trinta e nove vezes na vida. É irritante, quase isso me põe maldisposta, eu disse quase. Portanto a partir de agora, isto pensava eu no caminho até ao meu cliente Mais Novo, para não perdermos o norte, vou atirar a quem me acusar de alegria desmesurada e inoportuna, não é nada sexy ser-se alegre e isso, já percebi, mas vou atirar com esta noção de eu ser uma pessoa Solar! Tem muito mais nível, por um lado, e sempre foi definido por um orador de certeza respeitável, por outro. Mi aguardji.
Chegada a casa, e antes de me atirar ao trabalho do meu cliente Primeiro, vou ler um ou outro blogue para aquecer e deparo-me com isto. Que giro.

9 comentários:

  1. Tenho uma colega que me diz muitas vezes, a rir claro está "pára de espancar as pessoas com tanta tranquilidade e boa disposição". Se calhar posso adoptar também isso do ser solar. É isso, serei, como a Susana, um Ser Solar, com maiúsculas. :)

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    1. Sim, sal, isso mesmo! Serjamos Solares em pleno e com maiúscula!
      E que comentário tão bom, este :-)
      Um beijinho.

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    2. Só mais isto: eu já cheguei a ter colegas que me sugeriram fingir que andava chateada com alguma coisa, só para não parecer tão mal... (que lindo).

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    3. :) às vezes até posso estar assim mais para o aborrecida mas escolho sempre sentir-me tranquila e procurar a boa disposição. Pode ser uma escolha se, de facto, quisermos. Beijinho

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    4. Essa é uma ótima abordagem, sal, quanto a mim. Até porque a boa disposição contagia-se, fazendo o dia dos outros também ser melhor.
      Beijinho e bom fim-de-semana. :-)

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  2. não conhecia o blog, gostei muito da Erva Príncipe.
    só coisas boas, quando aqui venho, doce Susana :)

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    1. Querida flor, que bom!
      Só palavras boas, quando aqui as deixas, sua cheirosa. :-)

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  3. "Susana Solar"
    Acho que cai bem :) fascinam-me e atraem-me pessoas assim, alegres e bem dispostas "par n'importe quoi".
    Gostava de ser assim

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    1. E não és, GM? A mim - daqui deste lado - parece-me bem que sim.

      Muito obrigada pelas tuas palavras. :-)

      Eu costumo pensar que quando tiver 90 anos e olhar para trás vou arrepender-me muito de ter tido queixumes e dores demasiados ao longo da vida, se os tiver. Então, tento não os ter. Mas nem sempre consigo.

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