a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

08/06/2019

Vermelho-sangue


Agora mesmo, nesta manhã de sábado, enquanto me entrego ao trabalho, ao meu adorável trabalho, estou sendo atingida por uma outra vibração, toda subtil. Extraindo um dos derradeiros suspiros aos discos compactos, sobreviventes dos zeros e uns mais voláteis, hoje vencedores na propagação das ondas musicais, pus para tocar a Nina Simone. Puxa, que já não me lembrava de como esta voz quente, quase de homem, se espalha pelo soalho de madeira, se estende, espreguiça e liquefaz, depois sobe pelas paredes pintadas de novo, bem devagar e pastosa, entretanto pastosa, lambuza-se nas cores também elas quentes dos quadros pendurados em silêncio, observando tudo, e só então faz-se entrar-me na circulação vermelho-sangue, uma das cores mais belas que já ouvi.

6 comentários:

  1. Ai, bolas, que maravilha de pintura escrita sobre o potencial que a música de uma voz à solta tem para tocar(nos).

    Bom trabalho, que os próximos dias continuem assim cheios de inspiração, e, bom ti vê, Susana, precisa escrever? Carece não, minina, né? cê sabe. :-)

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    1. Bom ti vê eu também, viu? :-)

      É que isto de trabalhar muito, muitíssimo, tem o reverso de quase não conseguir vir ao(s) blogue(s). E depois dá saudades, dá.

      Muito obrigada, Cláudia! :-)

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  2. Se a descrição é tão bela, imagino só a música :)
    Bom feriado

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    1. A música é bela, sim (pelo menos para mim) :-)

      Obrigada, GM, e bom feriado também para ti!

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  3. Que maravilha de prosa, Susana. Vai tão bem com a Nina :)

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