a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

04/09/2019

E de setembro, também gosto muito de setembro


Quando saí para, antes que o sol da tarde desse as suas dentadas à canícula, ir ao terminal multibanco levantar dinheiro e arejar a pevide pelo caminho (nunca me perguntei o que raio é a pevide), cruzei-me com a mulher que um dia fiz sentar no avião puxando-lhe pelo casaco de pelo a fingir. Não foi a primeira vez, já me cruzei com ela vezes bastantes para perceber que moramos na mesma rua de Lisboa, nos momentos, claro, em que eu moro em Lisboa. É que achei esta uma das coincidências tremendas e até fiz um post ou dois sobre isto há atrasado de tal modo fiquei estupefacta. Puxei-a pelo casaco para a fazer sentar no seu lugar no avião porque ela se tinha posto em pé ainda o aparelho estava a rolar na pista e o comissário de bordo aos gritos no sistema de microfone, minha senhora! minha senhora! sente-se! sente-se! em inglês. Ela toda atarantada não deve saber inglês nenhum porque não fazia caso destes gritos e foi aí que eu estiquei o braço, tal tal, já contei, explicando-lhe ao mesmo tempo a razão do meu gesto brutal (pevide será a cabeça?). Como se não bastasse, no voo de regresso lá vinha ela de novo no mesmo avião que eu e novamente sentada dentro do meu alcance, mas desta vez portou-se muito bem que eu vi. Ora, dias depois, cruzo-me com essa mesma senhora no meu próprio bairro e – desde então – fez a combinação de astros que nos orquestra as vidas cá na terra a proeza repetida de nos pôr em rota de colisão na mesma rua, por isso é que eu sei. Mas voltemos a esta manhã: cruzei-me com ela e pela primeira vez não ia a senhora sozinha, vinha conversando com outra (pevide deve mesmo ser a cabeça, uma vez que também se a pode laurear). No instante em que ficámos alinhadas as três por debaixo de um jacarandá sem flores pude ouvir a nossa senhora dizer para a outra “gosto muito da rapariga que arranja as unhas”.

E eu gosto muito de coincidências, de não arranjar as unhas e de ter tempo para escrever parvoíces deste género.

5 comentários:

  1. Contribuição para a problemática (adoro brincar com esta palavra) da pevide:

    Fecha os olhos. Agora imagina um menear de anca, tipo Marilyn Monroe, que se passeia sem pressa nem objectivo de chegar, só o prazer de um caminhar enfeitado em direcção a nada. Já está? Já imaginaste? Então agora murmura: Laurear a pevide...

    Agora, se for o caso, quero que te sintas completamente à vontade para dizer-me: Cláudia, se era para isto, mais valia teres ido arranjar as unhas... ;-)

    Olá Susana!

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    1. Olá Cláudia Filipa, deixei um comemtário para si e para a Susana sobre aquelas conversas entre a Agustina e a Maria João Seixas, lembra-se?
      Talvez ajude a encontrar a série...

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    2. Aqui no Norte usa-se a expressão (com vossa licença): "rascar a cona".

      (eu avisei...)

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    3. Susana, sei que não considerarás abuso e que me permites, por isso vou dizer aqui coisas antes de ti:

      Maria, lembro-me perfeitamente. E, depois de ter deixado esse comentário aqui na Susana, fui ver se a RTP estaria a disponibilizar a série na net, e não está. Já fui ler o comentário que deixou, pois é, foi o que também pensei enquanto as ouvia, (ouvi-as com a minha mãe :-)), uma delícia, conversas a não perder, e nós a aprendermos, e sem esforço nenhum, com quem pode ensinar-nos coisas. Muito obrigada pelo seu cuidado, pela sua atenção, mesmo, Maria.

      Kina (sinto falta do lady, sabe, para mim, representava estar sempre com os seus dois lados, a não ser que, só Kina, seja logo para funcionar como aviso prévio...;-))
      Embora a palavra considerada asneira que aí está, seja, no conjunto das "asneiras" que conheço, aquela que, para mim, ui!!!! Está a ver, não está? Embora eu não diga asneiras, bem, isto não é completamente verdade, já tenho dito (essa é que nunca), tenho é de estar para lá de furiosa (o que me acontece, muito, naquela semana do mês, ou se bater com um dedo na esquina de qualquer coisa), embora isto tudo, sempre que me refiro a coisas que considero ordinárias ou ordinarices, nunca estou a pensar em palavras consideradas "asneiras", uma asneira bem aplicada até me faz rir, mas em atitudes, comportamentos, e isto não é conversa, é mesmo o que penso. E, malta do Norte, muito porreira, diz-me que tem de estar sempre em esforço para não, é que, para eles, "alho" é vírgula.
      Aqui, nua e cruamente, sem poesias, sempre me disseram que significa: "Abanar o cu sem fazer nenhum". Agora, a Susana, se quiser, que nos ponha na ordem.
      Se estiver a ser, continuação de um bom fim de semana.

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  2. Minhas lindas, vocês já estão na ordem. Numa ordem bem harmoniosa, na qual podem e devem ser vós mesmas, genuínas, enquanto aqui escrevem os vossos comentários. Este blogue, que é um sortudo de um blogue por nunca nem uma só vez ter tido aqui alguém a deixar fel ou algo assim mais esquisito de digerir, é um blogue feliz que adora receber-vos e aos vossos comentários!

    Kina, obrigada pela nota vinda do norte, que nos elucida... hum, será então que pevide... ok.

    Entretanto, que bom seria conseguirmos encontrar essas conversas com a Maria João Seixas!

    Beijos a todas e que tenham uma semana feliz, luminosa, inspiradora.

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