a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

11/09/2019

Vá lá que encastrável temos

Onde estão os técnicos de linguística, pode saber-se? Precisamos de palavras novas, senhores técnicos! E já muitas!  Em toda a minha vida só me estou a lembrar de ter sido posta no dicionário a palavra bué, tão pequenina e redundante, que aquilo não deve ter dado trabalho nenhum, é uma nanopalavra. Ok, nanotecnologia, lembrei-me agora. Parabéns, palavrinha fofa. De resto, ou tenho andado muito distraída a fugir de paragens de autocarro com publicidade ou então gostava imenso de saber.
Por que raio não inventamos uma palavra para software, hã? E hardware? Achamos que não é preciso? Tão sei lá manter o estrangeirismo! O mindset, o downsizing, que lindo. Os franceses criaram o logiciel, não criaram? E nós? Nós nada, software! 
Ainda tive esperança, por volta dos meus dezasseis anos, quando me disseram que hardware ia chamar-se  quinquilharia e eu nem sequer me importei de a palavra ser tão feinha. Estava preparada para um futuro (risonho) com ela. Mas a pobre não vingou, vinha com problemas ou cardíacos ou outros.
Smartphone, não temos. Tablet, não temos. E Website? Internet? (Internet ainda vá que se perdoa) Hob, não temos. Hob? Que é isso?, pergunta aí alguém. Não é hobina, hobura, hobezedura, não. É, por exemplo, placa de cozinha. Mas placa já havia e cozinha também, portanto não vale. Preguiçosos, pá.

(Sugestão: suaviçoso)

4 comentários:

  1. Confesso que já fui mais purista, agora até acho graça a esta misturada...só tenho pena de não usarmos mais uns termos franceses e italianos, ainda por cima agora que os ingleses estão de partida da UE.
    ~CC~

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    1. Boa ideia, CC! Vamos brexitar os anglicismos e adotamos termos latinos! :-)
      Ah, eu embirro com os exageros de termos que não precisamos mesmo de dizer, o pior de todos, para mim, é o mindset. Blhargh.
      :-)

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  2. Tão giro. Sabes, tenho assim uma espécie de trauma com os estrangeirismos. Tenho tendência a associar o que, muitas vezes, vejo sair em modo pomposo, orgulhoso, por saber-se usar e pronunciar a palavra estrangeira, àquela coisa da qual nunca mais nos livramos, àquele fabuloso retrato do Eça, Dâmaso e o seu "Chique a valer".
    Mas há palavras mesmo muito difíceis de traduzir, pelo menos numa única, por exemplo, penso que, hardware, nunca poderia ser traduzido como "quinquilharia", na muito minha tradução automática, dá "equipamento estrutural", neste caso, penso que só passa a "quinquilharia" depois de já não funcionar convenientemente. Já agora, conto-te como traduzo (e são sempre duas palavras), software (sinapses artificiais), mindset (para mim, é mente afinada :-)). Sim, alguns dos teus exemplos, até têm mesmo correspondência directa muito certa, só numa palavra, se quisermos.
    Olha, fiz uma pausa e diverti-me com isto, a ver se retomo com a mente mais afinada. Boa tarde, Susana :-)

    (e essa sugestão de software em modo fofinho, hem?)

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    1. Olá Cláudia,

      E eu fiz uma pausa de blogue mais comprida, daí só cá vir hoje responder-te.
      É verdade que eu embirro com a utilização de estrangeirismos quando a ideia é esmo essa de passar uma imagem pomposa e eu vejo é uma coisa ridícula. Mas aparte este detalhe, verdade que gostaria muito de ter termos em português para tudo. (estou a ficar velha, estás a ver?)
      O teu "sinapses artificiais" é top (olha um estrangeirismo! :-)), muito bem encontrado, pena é que é capaz de não pegar no seio da malta jovem. :-)
      Tenho mesmo é de (re)afinar a mente para esta dura realidade.
      (é que eu adoro inventar palavras)
      Um bom domingo, hein? :-)

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