a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

29/11/2019

Dia da tampa laranja

Temos, nesta pequena e pacata cidade holandesa, a seguinte organização entre outras, muitas (por acaso adoro). Amanhã passa nas ruas o camião de esvaziamento dos contentores de tampa laranja: plástico e metal, embalagens. Isto é evento para estar nas agendas de todas as casas, naturalmente. Mas basta olhar pela janela e ver que Joop, o vizinho que mal vê - do seu sofá, imagino - umas folhitas de árvore no chão do seu arranjadíssimo jardim, vai soprá-las para a rua com a sua máquina especial de soprar folhas barulhenta, basta ver que Joop, dizia eu, já pôs o seu contentor de tampa laranja em posição, a uns vinte centímetros do lambril do passeio, para dispensar a consulta da agenda. Vou então eu também, munida de casaco e botas apropriados ao tempinho que faz, puxar o nosso próprio contentor com a cor da tampa certa. Vou ser a segunda da rua. Já está escuro, mas dá para distinguir as cores das tampas e pego no contentor certo. Atravesso a rua com ele e posiciono-o alinhado com o de Joop, de soslaio verificando se a posição está corretamente paralela à rua e a distância ao lambril bem medida.  Amanhã os braços-robot do camião que vai passar encontrarão tudo em ordem, o seu encaixe será perfeito, sem folgas nem desvios, nas adequadas ranhuras do recipiente. 
A acrescentar a isto, é um bocado, como direi, surpreendente que o camião ande sempre tão limpinho (é um gosto vê-lo, camião), mas deve-se isso em parte, já refleti, à exata geometria com que toda a vizinhança colabora no orquestrar da situação. Não posso negar que tem a sua beleza. Se amanhã a oportunidade vier, ainda vou e faço uma foto para ilustrar. Porém, era aqui que eu queria chegar, de cada vez que empreendo a colocação do contentor determinado pela organização local - há também o de tampa verde, o da tampa azul e o da cinzenta - sou acometida de uma vontade metidinha de colocar na rua em posição, como se por engano, um com tampa da cor errada. Para testar o sistema, ver que tal. E, quem sabe, é capaz de não ser demais, sair no jornal local.

6 comentários:

  1. Uma organização de invejar. :)
    E os enganos estarão sujeitos a coimas?

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  2. Deve ser bom viver num país civilizado, não deve, Susana?
    Não é vontade de dizer mal, é mesmo tristeza por sermos assim :(
    Aqui na aldeola onde moro, temos contentores e ecopontos; pois não imagina a confusão e porcaria que por ali vai: garrafas, embalagens de leite, jornais, lixo orgânico sem estar em sacos, tudo dentro (e fora) dos contentores verdes... e os ecopontos vazios, ali ao lado.

    Bom dia, Susana :)
    🐺

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    1. Não é que eu viva na Holanda, mas sim, é bom viver num país onde quase não se perde tempo com burocracias, os serviços básicos funcionam, nem se dá por eles, a organização impera. Essa parte é maravilhosa. Mas há mais, claro. :-)
      Boa tarde, Maria :-)

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  3. Vá lá Susana, há que refrear essa vontade, não vão dizer que é coisa de português não saber separar os lixos devidamente...e na verdade é como diz a Maria, ainda estamos longe de o conseguir fazer bem. Um dia tem que me fazer um roteiro de uma visita à Holanda, é país que ainda não conheço...
    ~CC~

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    1. Está toda refreadinha a vontade, que eu faço o melhor que posso pela reputação dos portugueses, seja lá onde for que me encontre :-)
      O roteiro é quando quiser, querida CC.

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