a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

10/03/2021

É domingo (se fosse não era preciso dizer)

São nove e um quarto da manhã. O sino da igreja fez a sua música das nove horas enquanto o sol entrava em vagas indecentes, bem anafadas, transbordantes, dignas de uma inveja magnífica, dentro da cozinha. Aí passava eu um livro à Saminhas para ela acompanhar com o seu café e comentávamos a recente falta de uma nota no sino, o que faz a música habitual parecer um miúdo na muda dos dentes (desabitual).

Mas comecei o dia (não falando no varrer dos cacos das cinco da manhã, não digo quem foi que atirou o candelabro lindo, grande e de vidro com a vela grossa desde o cimo do piano para o chão) a ler a Cláudia R. Sampaio. Os seus poemas são como caramelos absolutos e viciantes, cerejas gordas e pretas comidas num dia de junho, num dia do princípio de junho, em jardim absorto de pássaros, cantos e flores, os poemas dela não se consegue parar de comer, ainda não se acabou um e já se quer o próximo, uma pouca vergonha e não só uma pouca vergonha, como também um domingo inteiro de sol, uma clave e um papagaio maluco tudo junto.

(quem tem gatos tem cadilhos, quem não os tem não sabe o azul e doce, o ácido e musical, o aromático e macio que é tê-los)

(também ninguém me mandou ir para a cama e não pôr o candelabro e a vela a salvo de certas situações)

(tal como já faço com várias outras peças a proteger da morte todas as noites)

(onde é que já se viu)

11 comentários:

  1. Bom dia,
    Lamento a sorte do candelabro. Há coisas que se têm que por a salvo dos pequenos seres peludos, doces, macios e muito ágeis, que dão pelo nome de gato.
    Por ex. nunca posso dormir com um copo de água na mesa de cabeceira; para além de o copo correr sérios riscos de se partir, sou borrifada várias vezes pelos gatos que poem a patinha dentro do copo e depois sacodem para cima da minha cara.
    A sorte deles é que eu gosto muito dos gatos.

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    1. Aqui em casa os meus copos de água - que costumo espalhar pela casa, de facto - são muito apreciados pela dona gata para lhes ir beber o conteúdo.
      Eu também estou a gostar muito de gatos, mas nem sei como :-)

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    2. Só não gosta de gatos quem nunca os teve ou quem não tem qualquer sensibilidade para a beleza ( o que não me parece o caso)

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    3. Na verdade eu sempre gostei deles, mas nunca tinha privado com um.

      E a personalidade muito específica? :-)

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  2. Claro, qualquer Cláudia na vida de uma pessoa e é sempre domingo...(nem sabes como fico toda contente, toda em modo riso, quando tenho oportunidade de pôr-me com estas palermices, toda fanfarronice)
    Também foi aqui um bocadinho domingo por volta das treze e trinta, é que comecei, até às catorze e pouco, sabes o quê? "O filho de mil homens", logo assim a abrir com o Crisóstomo e também sol por todo o lado e até também "ainda não se acabou um e já se quer o próximo", Conto, neste caso.
    E, hoje que estás em modo domingo, quero contribuir com mais uma coisa.
    A propósito do aniversário de um outro Blog, lembrei-me que não sabia quando tinha nascido o teu, fui ver, e, nesta quarta que se fez domingo, quero dar-te os parabéns por, num dia vinte e oito de fevereiro, teres decidido criar este espaço de enriquecimento coletivo. Está cá, "Centro de dia", este ano, e fiquei feliz por tê-lo comentado.

    Um excelente resto de domingo, Susana :-)

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    1. Eu cá adoro as tuas "palermices", Cláudia, são muito bem-vindas chez moi!
      esta tua homónima poeta é maravilhosa (eu acho). Mesmo os poemas dela refletindo estados de alma muito tristes a maior parte das vezes. Mas caramba, é tão bom de ler!

      O filho de mil homens! Esse foi um dos melhores livros que li nos últimos anos, é tão bonito!
      E esses contos... serão mesmo contos? separados? :-)

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    2. Ó Cláudia, e claro que falta agradecer-te muito os parabéns que me dás pelo aniversário deste blogue! Foi mesmo querido isso!
      Já passaram oito anos e eu quando o criei a achar que não ia ter assunto para mais de dois ou três posts! Tsss.
      E muito obrigada também pela tua presença, aqui, Cláudia, sempre luminosa e, sim, enriquecedora! Um abraço bem apertado. :-)

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  3. Também gostaria de deixar os Parabéns pelos oito anos desta voz à solta... 🎂
    Conheço-os (o blog e a Susana) há muito menos tempo, penso que desde que um adorável diabete apareceu na casa da serra 🐈
    Depois, fui lendo, fui gostando, fui ficando, até porque fui sempre muito bem recebida.
    Longa vida ao blog, à Susana e à querida Marble (embora com menos cacos aí por casa, espero...)

    Beijinho, Susana, e bom domingo.
    🌿🌼

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    1. Adenda:

      Este corrector é maluco!
      Adorável diabrete, qual diabete, qual carapuça
      Sorry Marble
      🐈

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    2. Já a semana vai quase a meio e eu ainda nada de responder a este seu tão querido comentário, Maria.
      Muito obrigada! Este blogue é que fica a ganhar com o perfumado que cá deixa! Só podia ser muito bem-vinda! :-)
      O diabrete, entretanto, já tem quase dois anos de idade e continua em pleno resplandecer de atividades criativas e felinas, claro.
      Mas como a Maria tão bem sabe, a parte do "adorável" supera em muito o apanhar dos cacos.
      Um beijinho e um abraço apertado :-)

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    3. Retribuídos, Susana, e extensivos à querida diabrete 🐈

      Bom Equinócio para amanhã, boa entrada na Primavera!
      🌿🌻🌾🌼🦋🌳🐝🐛

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