a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

12/03/2021

Nunca percebi aquilo do google sinto-me com sorte nem quero

Hoje ainda não fui propriamente andar. Fui sim ao supermercado. No corredor dos feijões, estava uma senhora de cadeira de rodas que ela própria conduzia. Quando me viu aproximar dos tais feijões, dos encarnados e dos da variedade manteiga, dirigiu-se-me com a voz, olhe se faz favor. Para além de olhar, eu parece que sorri, mas não se pode ter a certeza. Ela pediu-me então para lhe meter no saco que levava atrás, pendurado na cadeira, um frasco de feijão encarnado e outro de feijão frade. Entalei, devagar, os frascos pedidos entre uma alface cheia de folhas (de alface) e a parede, digamos, do saco. Avisei a senhora que a situação estava a chegar ao limite da capacidade do mesmo. Ela sossegou-me informando que a seguir ia para a caixa. Enquanto acomodava os frascos, devagar tal como já disse, aproveitei para conversar um bocadinho de nada. Disse-lhe que gosto muito do feijão encarnado mas esta marca da variedade frade nunca comi. Nem esta nem várias outras, o feijão frade é o mais aborrecido no campo dos feijões, talvez seja do nome. E áspero no sabor, ainda por cima. Mas isto eu não disse, para não cansar a senhora com conversa que ela não pediu e que a mim é que apetece. Tivera o saco mais espaço e eu havia de me oferecer com veemência para nele colocar outras mercearias da sua lista. E, claro, continuar a conversa. Talvez sobre a origem do atum enlatado, a filosofia do vazio nas azeitonas descaroçadas, o bico do grão do mesmo e de conserva. Se pudesse até lhe contava da experiência matemática e surpreendente que fiz com estes grãos, mas secos. Ainda por explicar. É que estou aqui estou a pôr-me a falar com toda a gente que me passar pela frente, nem que seja na televisão. Já faltou mais para acender o meu exemplar da caixa que mudou o mundo de propósito. É que já não se aguenta o confinas.

10 comentários:


  1. Tudo irá melhorar. Tenhamos fé. Fez bem em ajudar a senhora. Mostra o seu bom coração.
    .
    Cumprimentos poéticos.
    Cuide-se
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, há que ter ainda mais paciência.
      Obrigada, Ricardo. Um abraço.

      Eliminar
  2. lentamente as coisas começam a a andar, ainda que limitado! :)
    -
    Não é fácil, viver em constante desânimo...
    -
    Beijo, e um excelente fim de semana:)

    ResponderEliminar
  3. Li este teu post (logo no dia) e, por um lado, fiquei com vontade de partilhar, mas, por outro, começo sempre por ficar com pudor, é mesmo isso, pudor, pudor de vir contar certas coisas sobre mim para um espaço que não é meu, fica a parecer-me assim...acho que me entendes, não entendes?
    Bem, deixei que o "por um lado" ganhasse.
    Também costumo ficar assim à conversa com desconhecidos em sítios tipo supermercado, quando se proporciona, (na verdade, bem mais vezes antes da pandemia), porque, acontece várias vezes, as pessoas dirigem-se a mim a pedir se posso ajudar, se for no supermercado, quando não estão a perceber o preço de um artigo ou com a balança nos sítios nos quais somos nós a pesar fruta e legumes, que não estão a perceber ou a confidenciar baixinho que não sabem ler e depois ficam ali um bocadinho à conversa no meio de muitos obrigadas e sorrisos também...Confesso-te que adoro, fico a pensar que devo ter um ar confiável e acolhedor, não passa pela cabeça das pessoas o meu lado estafermo, está visto :-).
    Também posso ser eu que "estou a pedi-las", sabes que a imagem que mais me vem à cabeça relacionada com todo este tempo de pandemia, aconteceu precisamente num supermercado. Pouco depois de ter começado o confinamento de março do ano passado, o olhar aterrorizado, e aterrorizado é mesmo a palavra, sentia-se mesmo o medo, de um senhor que aparentava mais de oitenta anos que andava a fazer as suas compras, fiquei tão aflita com aquilo, então, cada vez que passava pelo senhor, punha-me a sorrir para ele com o melhor sorriso que conseguia e só não lhe disse qualquer coisa com medo de que ele fugisse...Mas aquela expressão, Susana, aquele medo, uma pessoa daquela idade sentir-se assim, bolas, sabes... (provavelmente, neste caso, os meus sorrisos contribuíram para que o senhor pensasse que se ele estava com medo eu já estava maluquinha de todo)

    Uma semana o melhor possível!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. (ai que horror! Isto ficou tão grande!)

      Eliminar
    2. Não ficou nada tão grande!!
      Gosto muito quando contas as tuas histórias, Cláudia. E compreendo perfeitamente esses sorrisos para o senhor. Também não gosto de ver pessoas com medo, muito menos aterrorizadas. E o senhor tinha razão em estar assim, esta pandemia tem levado muita gente, especialmente na sua faixa etária.
      Se há algo que devíamos levar desta situação, era mais união entre as pessoas, mesmo que sejam desconhecidos. E um sorriso pode fazer essa diferença, acredito.
      Também espero que a tua semana seja o melhor possível. Eu tenciono ir tomar um café a um postigo qualquer! :-)

      Eliminar
  4. Até chegou aqui o cheirinho desse café e dos das leitoras!
    E, sabes, o feijão frade estufado com cubinhos de presunto e depois, pondo-se-lhe uns ovos a escalfar, é mesmo bom!

    Beijinhos e muita saúde! 😘😘🌷🌷

    ResponderEliminar
  5. Eses actos de solidariedade mostram como o mundo tem muita gente boa dentro!

    ResponderEliminar