a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

08/06/2021

Malware

Mesmo dentro de casa com tudo fechado, ouve-se as máquinas lá fora. Pelo continuado do som, estimo ser um trator a trabalhar a terra dele. Se o vir, fico logo alegre – a imagem de um trator a trabalhar a terra dele faz-me isso - mas ouvi-lo apenas não. Estou no andar de cima, na minha lavoura (para não repetir trabalhar), tenho uma vista verde, extensa e luxuriante à minha frente, lavo nela os olhos as vezes que eu quiser, lavo lavo, mas não os ouvidos. Ao mesmo tempo, vem do lado esquerdo uma cantoria aguda que estimo ser emitida pela vizinha cujo holandês me escapa em noventa e cinco por cento (na realidade, só lhe apanho uma palavra e sempre a mesma, que é “misschien”* e que ela pronuncia, em vez de “mecerrin”, “mechin” e, como a pronuncia em duplicado, “mechin, mechin”, dá para cinco por cento da conversa), mas também pode ser um dos netos, que de vez em quando vem passar umas horas com estes avós. Além de que, e vou já já fechar o balcão das queixas (ah ha! eu também duplico palavras), além de que, dizia, esta manhã logo cedo passou o carrinho da junta a aparar a relva em frente às casas, dispersando o seu próprio ruído imenso. A boa notícia vem agora: consegui encontrar a solução para as mensagens suspeitas que o meu telefone coitadinho recebia desde há dois dias, à cadência de vinte por hora, tipo isso. As muitas muitas (ó!) mensagens alertavam para um problema iminente e convidavam com vermelhos e azuis berrantes a seguir ligações "salvadoras" (também se pode fazer as aspas com os dedos a riscar o ar). Não segui nada, claro. Investi, antes, com a solução explicada na querida Internet que foi totalmente eficaz, quer dizer, dizimei a intenção do malware. Mas não sei traduzir malware.

*talvez

2 comentários:

  1. Vê se gostas, não consegui melhor, mas diverti-me a tentar "traduzir":

    Malware: Programa manhosamente maléfico

    Boa noite, Susana :-)

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    Respostas
    1. Se eu gosto? Adoro! Acho que dificilmente podia ser melhor, Cláudia!

      Programa manhosamente maléfico é muito mais lindo, poético e puro do que malware!

      Agora lembrei-me que há dias li uma notícia num jornal qualquer na Internet, já não sei qual foi, mas foi um dos sérios, onde uma jornalista escrevia em grande parte com estrangeirismos, de tal maneira que a leitura do artigo foi árida, áspera e, no fim, distraiu-me bastante do tema tratado (que agora, claro, já não sei qual era).

      Bom dia, Claúdia :-)

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