a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

15/08/2018

O velhote, o sudoku e o café (há séculos que não havia post com café)

Na loja tipo supermercado das coisas baratas que vende tudo e que podia ser comparada a uma loja chinesa caso tivesse lá chineses, não tem, comprei uma nova lata para o café moído. É substancialmente preta com motivos de café mais ou menos giros e em baixo relevo e a palavra COFFEE na vertical, portanto especial para café. Havia lá outra lata da mesma família dizendo açúcar, ou melhor, SUGAR. Não comprei. Mas admirei-me que não dissesse, ao invés de SUGAR, TEA. Junto com o café as pessoas costumam arrumar o chá (normalmente).
Já na caixa de pagamento, eu, a lata para o café e um utensílio para limpar o chão melhor ainda do que faz o aspirador, surge por trás de mim, proveniente de um dos corredores da loja tipo supermercado das coisas baratas, um velhote com um livro de sudoku na mão trémula. O velhote dispõe porém de uma voz bastante potente, a qual destoa da tremura da sua mão. Fazendo uso daquela e erguendo esta acima da sua cabeça para que se veja bem o livro de sudoku, avisa a empregada que só há três na prateleira e todos do mesmo nível de dificuldade. E logo acrescenta que ele este nível de dificuldade já tem, precisava de outro nível de dificuldade do sudoku. Depois desaparece outra vez por um dos corredores, caminhando um pouco trôpego levando o livro da dificuldade errada já conhecido deste post. Quando a empregada da caixa despacha as minhas parcas compras, deseja-me um bom resto de dia, levanta-se da sua cadeira e, piscando-me o olho, anuncia que vai dar uma ajuda ao velhote com os livros de sudoku. Não havia clientes para atender a seguir a mim.
Quando cheguei a casa, a lata vinha ovalizada devido às pressões sofridas dentro da minha mala de compras enfiada na traseira da bicicleta. Endireitei-a devolvendo-lhe a circularidade na boa, lavei-a, sequei-a muito bem e deitei-lhe dentro, devagar, o café moído, podendo absorver todo o seu aroma.

9 comentários:

  1. Susana, acaso conheces o Rubem Braga?

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    1. Conheci Rubem Braga recentemente, li algumas coisas dele, não muitas ainda. É um duos autores que tenho em fila de espera para explorar melhor.
      Porque perguntas? :-)

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    2. Puxa, muito obrigada, Evandro. Nem sei bem que dizer...

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  2. E, depois, o espírito, feito aroma, extravasa desse limite constrangedor que é o corpo, feito lata, e ultrapassa a mão que treme, o andar trôpego, e, com "voz bastante potente" requer o aumento da dificuldade.
    A lata tem essa grande vantagem de, depois das vicissitudes da viagem, poder ser devolvida à forma inicial, na boa, mas, e lá vem aquela coisa tremendamente chata de não se poder ter tudo, falta-lhe o espírito, e o aroma, bem, o aroma foi emprestado pelo café...Huuuummmmmmm!!! Que cheirinho! Que cheirinho tem este post (até fiquei assim toda descarada e tentei poesia e tudo, notou-se muito esta minha falta de vergonha, Susana? ;-))

    Olha, e que bom andares assim a escrever mais. Que bom.

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    1. Mas é que há muito de poesia em ti, Cláudia! (se é que eu sei o que poesia é) :-)
      E que bom vires cá deixar os teus belíssimos comentários! Falta de vergonha!?... notou-se, notou-se! ;-)

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  3. absorveu-se muito bem este escrito, Susana. Entre vogais e consoantes, até inspirei do grão moído. o grau de visualização do conteúdo é apreciável, também. gostei muito.
    beijinhos e bom fim de semana,
    Mia

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