a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

13/07/2019

A sério

A festa das crianças tem insuflável com um motor para o enchimento com ar que trabalha em permanência fazendo um ruído em conformidade. Em concorrência, há música de palhaços com batida quadrada mesmo ao lado do motor em permanência incluindo não se perceber a cantiga devido à distorção. Um homem adulto, jovem, está vestido como se fosse um mágico e tenta animar as crianças fazendo-lhes perguntas extremamente entusiasmadas e recebendo respostas do tipo tiradas a ferros, como se costuma dizer. Há também uma mulher adulta, jovem, com metade da cara pintada, que se debruça incentivando as crianças a divertir-se no insuflável, ora as puxa para escorregarem ora as instiga a pular. Alguns pais e mães bebem cerveja pela garrafa nas laterais do recinto e olham para telemóveis na outra mão. As crianças estão relativamente paradas. Sentada na beira de uma cadeira, aguardando pacientemente que outra mulher jovem termine uma pintura no seu pequeno rosto, está uma menina. Nenhuma criança ri, salta, corre ou brinca por iniciativa própria.

No final da festa, sobrou o chão do pátio polvilhado de papelinhos coloridos. Alguns, no canto, rodopiam num tufãozinho de vento que ali se deixou ficar a brincar.

A sério.

4 comentários:

  1. Uma tristeza e um tormento para os adultos, essas festas feitas de encomenda. Abomino-as.
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também não dou muito por estas festas, não.
      Mas que é tradição nos tempos que correm, é...
      Boa semana, querida CC. :-)

      Eliminar