a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

11/04/2020

Um post por dia até ao fim do Corona - 27

Em geral, aborreço-me com livros ricos em nomes de lugares, especialmente nas partes dos nomes de lugares. Deve ser por isso que não me atrai uma literatura de viagem. Para além desta linha de base, o que me leva à leitura pode ser uma coisa, aquilo que me mantém nela, possivelmente outra.
Nada sugeria a possibilidade de aborrecimento em Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, e, por tê-lo trazido da Feira do ano passado, fresquinho, decidi abri-lo e entrar pela porta da frente, sem derrapar, tranquila e confiante.
Logo de início faltou-me vibração, um saborzinho que fosse. Ou então profundidade, qualquer destes dava. Mas respirando fundo segui em frente. Alcancei o meio caminho com notória dificuldade, o percurso feito aos arrancos. Londres, a luz, os ruídos, as flores, uma festa em mente, outra vez as flores e depois os interiores. Uma personagem por dentro, a seguir duas e depois três. Várias personagens por dentro. Dispersei: toda aquela diluição. Fez-me lembrar o patético que era, na infância, misturar todas as plasticinas coloridas, cada uma linda, própria, vibrante e promissora, querendo obter algo superior, o máximo das partes num expoente ainda mais lindo e apurado, e terminar com uma massa nojenta de um castanho tremendo. (pensei, até, em ir fazer um bolo)
Decidi, então, abandonar o livro. Não posso mais com esta narrativa sabendo-me a mastigado igual.

Provavelmente devo um pedido de desculpas ao resto do mundo. É a terceira ou quarta obra-prima das grandes que não me traz nada, me entedia e depois deixo a meio.

(vou mesmo fazer um bolo)

20 comentários:

  1. Nem todas as pessoas, nos tempos que estamos a viver, têm paciência para ler um livro. Confesso que também não tenho. Prefiro ouvir música e/ou estar por aqui no pc.

    Também ler determinados livros depende do gosto de leitura de cada pessoa, Uns até podem gostar muito, e outros lendo o mesmo livro, não gostarem nada

    Bem: Desejando uma Páscoa muito feliz para si, extensivo a toda a família.

    ResponderEliminar
  2. Hoje não é dia para aborrecimentos!:)

    -
    "Neste tempo que nos resta..." | Uma Santa Páscoa | .O tempo pode ser curto e o amanhã já ser tarde. A Páscoa continua, as vidas não. Por isso, façamos do nosso próprio lar o imaginário da família em volta da mesa. A praia que gostaríamos de visitar... O parque florido iluminado pelos raios de sol... Façamos a nossa obrigação. Ficar em casa, porque do nosso lar iluminado podemos sempre falar com quem está longe, ou mesmo ali ao lado... PÁSCOA FELIZ.

    Beijo e abraço, virtualmente carinhoso.

    ResponderEliminar
  3. Fez bem, Susana, um livro deve ser fonte de prazer e não de aborrecimento - e o tempo é demasiado precioso, cada vez mais precioso.
    Se soubesse as obras primas que já deixei a meio (algumas nem sequer comecei...) e não peço desculpa a ninguém :))
    Mrs. Woolf não é fácil de ler e tem que se estar in the right mood.
    Talvez queira experimentar ver o filme As Horas, com a Nicole Kidman, a Meryl Streep e a Julianne Moore, mas não posso garantir que vá gostar ;)

    E esse bolo que vai fazer, dá para enviar uma fatiazita?

    Páscoa feliz, Susana!
    Beijinhos.
    🌻

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Do bolo envio uma intenção de Faria, que isso dá, Maria :-)

      Andei meses a fio muito contente com todas ad leituras que escolhi, foi uma sorte. Mas este Mrs. Dalloway surpreendentemente saiu dessa linha :-)
      Quanto ao filme, não vi, realmente. Obrigada pela sugestão, Maria.
      Feliz Páscoa. Beijinhos.
      🌼

      Eliminar
    2. Ah, então veja o filme. É baseado no livro homónimo do Michael Cunningham (um especialista em VW) e a Kidmam ganhou um Óscar com esse filme: eu adorei.
      Sem querer influenciá-la, não leia outro romance dela tão depressa (nenhum é fácil de ler). Ela tem ensaios fantásticos sobre outros escritores (também era editora) e o muito conhecido "Um Quarto que seja seu" sobre a importância das mulheres terem independência económica para conseguirem singrar na vida: um must!
      O livro de contos é bom, embora alguns sejam demasiado insólitos.
      Resumindo: eu recomendaria os Diários, onde ela escreve as coisas do dia a dia como se estivesse a conversar connosco e faz um retrato perfeito da sociedade londrina daquele tempo. É um livro grande mas não é maçudo, pode-se ir lendo à medida do nosso tempo livre, ou até abrir ao calhas e ler, é sempre interessante, pelo menos para mim :))
      Eu comprei a edição em 2 volumes da Bertrand, apenas porque, tendo caracteres maiores, é de mais fácil leitura.

      A minha mãe está a ver a missa na TV (ela gosta e vê sempre) e eu agora vou tratar do nosso almoço a duas.

      Bom almoço por aí também, Susana. :)
      🌻🐈

      Eliminar
  4. Hum. De Virginia Woolf tenho dois livros e li "Orlando". Gosto muito.

    Beijinho. Boa Páscoa, Susana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu nunca tinha lido VW. E pensava mesmo que ia gostar.
      Se apanhar esse "Orlando", tento de novo, Diogo. Obrigada. :-)
      Um beijinho e uma Páscoa Feliz.

      Eliminar
    2. Também há um filme baseado em. Relativamente baseado em "Orlando". Porque o filme vive como peça autónoma; não sendo uma adaptação brick by brick. Basicamente, só a premissa... e, até, dessa realizadora, Sally Potter, o que recomendo muito é o «Rage», esse sim, filmaço!!! É mesmo fora da caixa... e mais não digo. :)

      https://www.youtube.com/watch?v=82l87cFn1PE

      Eliminar
    3. Obrigada, Diogo!
      Um filme fora da caixa agora vem mesmo a calhar, devido a estarmos tão metidos à força nela... :-)))

      Eliminar
  5. Por acaso gostei bastante desse livro. Mas não consegui acabar de ler A Montanha Mágica.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. De Thomas Mann só li, há muitíssimo tempo, "Sua Alteza Real". E acabei-o, portanto gostei o suficiente. :-)
      Um beijinho, ana, bom domingo.

      Eliminar
  6. E uma Páscoa muito feliz para a Susana. É a primeira Páscoa de miss marble, não é verdade?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, ela deve ter feito um ano por estes dias. Anda toda contente, a bichinha. :-)
      E obrigada, mais uma vez, ana. :-)
      Votos de Boa Páscoa retribuídos.

      Eliminar
  7. Que dizer de uma pessoa que tentou duas vezes e não conseguiu acabar o Memorial do Convento? Tal como a Susana tenho uma certa vergonha...e não é que não gostasse das personagens, eram as longas descrições...mas estou com a Maria, o filme "As horas" feito com base nesse livro é bom, eu pelo menos gostei.
    Bom resto de Domingo!
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que dizer, ~CC~?
      Que não há duas sem três ;)
      Foi o meu primeiro Saramago. E gostei tanto que nunca mais parei de o ler :))
      🌻

      Eliminar
    2. O Memorial do Convento também não foi o meu Saramago preferido (e foi, tal como a Maria, o meu primeiro). A partir daí começaram todos a ser os meus preferidos... tirando, talvez o ANo da Morte de Ricardo Reis.
      Mas ah, CC, vergonha é roubar e ser apanhdo! :-)

      Eliminar
  8. acontece, às vezes depende da altura... já comecei livros que nã me disseram grande coisa num determinado momento e quando voltei a eles mais tarde, era como se fosse outro livro, outro escritor...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida, Manel. Eu não tenho o costume de voltar a livros já lidos, mas sei que se voltasse a alguns que tanto efeito tiveram em mim no passado, agora muito provavelmente nem me beliscariam nada. Ou vice-versa.
      Nós, pessoas, também vamos tendo mutações com o passar do tempo. :-)

      Eliminar