a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

21/08/2022

O exemplar

Atracámos o barco num dos pequenos ancoradouros sem plataforma. Lancei o cabo de maneira a apanhar os picoletes do cubo de material capaz de propriedades mecânicas que dão muito jeito, ali firmado para isso, mas só à terceira consegui. Entretanto havia-se levantado um vento fraco do lado onde pastavam uma série de vacas. Quando a embarcação por fim se imobilizou e o ruído do motor deu lugar ao grasnar do bando de gansos cruzando o azul do céu, olhei para o relógio. Ainda faltavam três horas para o jantar no único café da vila. As ideias expressas no TripAdvisor colocavam-se no topo da escala, de modo que a espera prometia. Os homens começaram a pescar e eu anunciei às minhas irmãs que ia reconhecer o lugar e com elas de preferência. A do meio saltou, a rir, por cima da pequena balaustrada para o relvado que ali nos acolhia o meio da tarde e a mais nova, de máquina fotográfica por equipamento principal, tomou mais cuidado ao desembarcar enquanto nos ameaçava com um trilião de palavras por minuto, palavras que, já nós sabemos, ficarão bordadas numa dança em dó maior como se constata no exemplar que mais tarde lhe roubei.

4 comentários:

  1. Talvez por continuares a oferecer-nos coisas, agora este exemplar, olha, não sei por que razão, sei que me apeteceu ir visitar-te ao ano de início deste teu espaço. Apeteceu-me ler uns posts sem seguir qualquer ordem e fiquei com vontade de continuar (mas na altura não dava) e encontrei uma fotografia de um barco e eu "Oh pá que coisa gira ter vindo aqui parar, tenho de contar isto à Susana! Também quero contar-te que, lá, em 2013, quase ao pé do barco, mais coisa menos coisa vá, comoveste-me falando de ti a partir de um quadro de Armanda Passos... mas é que me comovi mesmo...
    E é isto
    E, também, olá Susana! :-)

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    1. Oh, Cláudia, fizeste isso! Eu não me atrevo a ir visitar antiguidades neste sótão empoeirado... Mas, muito obrigada. És tão boa companhia neste mundo dos blogues, querida Cláudia! :-)

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    2. Pois olha, fiz, e fiquei com vontade de fazer muito mais vezes, fica sabendo.
      Imagina, inverno, chuva lá fora (esperemos, em modo fazer bem sem exageros de inundações) e eu, "Ai, hoje vou para o sótão da Susana!" (se alguma vez ouvires tossir e não conseguires perceber de onde vem tal tosse, não te assustes, serei apenas eu no teu sótão por causa disso que dizes da "poeira"...)
      E, acredita em mim, podes ir lá visitar-te à vontade. Baús para abrir sem medos, cheios de coisas de muito valor...
      (e, muito obrigada, também) :-)

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    3. Foi tão bom ler este teu comentário, Cláudia. Tu dás muito a este blogue, muitas vezes mais do que eu. (ou seja: dás-me a mim) :-)
      Olha que essa ideia de Inverno e chuva lá fora já ia. Especialmente a chuva lá fora, que tanta falta faz.
      Bom fim-de-semana!

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