O passadiço de madeira fresca leva-nos ao restaurado lagar de azeite. A porta aberta bastou para que nos aventurássemos a visitar o belíssimo interior. Uma exposição de míscaros, líquenes e fungos colhidos de manhã na outra margem do rio estava a ser montada por gente do norte, disseram-nos. Gente que os sabe classificar: desde os que dão boas sopas ou um suculento risotto, aos que são mortais quando ingeridos.
À saída, tropeçamos no edifício de um velho posto de transformação. Aquele mesmo que, na parede exterior, ostenta, numa composição de ladrilhos, um orgulhoso mapa da cidade exibindo o encontro entre os dois rios pintado num azul vivo, muito alegre. Como se fosse dali que vem aquela força, tanta beleza.
Mas na esplanada já não está ninguém. Parece que todos terão recolhido o sábado - assim amadurecido, assim morno, assim tranquilo - dentro das suas casas de pedra muito arranjadinhas pelas ruas estreitas. Todos não. Quatro homens estão sentados dentro do café aquecido, demasiado aquecido, a olhar muito quietos, com as faces vermelhas, bolachudas, para a televisão acesa (claro). No programa da tarde decorre uma homenagem a Marco Paulo, o cantor popular que Portugal guardará por muito tempo, estou certa, no seu coração.
Susana, belo retrato de um interior tão esquecido mas que ainda assim luta por mostrar o seu melhor. O Marco Paulo não ficou no coração de todos os portugueses, tenho respeito pelo seu percurso e nada contra ter sido popular mas as canções em si apenas me ficaram no ouvido, no meu coração mora eternamente Zeca Afonso.
ResponderEliminarQuerida CC, este interior esquecido (porém não tanto assim) faz-me transbordar de uma ternura saloia, acho que é da idade.
EliminarAté o Marco Paulo, de cuja música eu costumava fugir, mas que realmente encantou muita gente, cai nesta sopa de ternura bacoca e, sei lá, muito piegas.
Olá Cidália, que bom recebê-la de novo!
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu amável comentário. Não sei porquê, não ficou registado aqui no blogue, só o recebi por email.