a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

20/08/2025

E tu, como queres as tuas ricas férias?

Há muito tempo que o Algarve não me serve umas ricas férias. Se rebuscar nas memórias não virtuais da minha cabeça, nada diferentes entre si, as semaninhas no Algarve marcham lado a lado numa tão mesma fatiota:
o carro estacionado ao sol fazendo as vezes de forno, 
a estrada de terra batida a libertar-se de boas quantidades desta, que nos cobre de pó, montes de pó, 
a paisagem urbana absolutamente, ou quase absolutamente, vá, desprovida de alguma pitada de bom gosto que fosse. 
Tipo assim. 
Nos últimos anos, o Algarve apenas me serve os seus efeitos na pele bronzeada das minhas filhas, da minha irmã, de uma ou outra vizinha, e estamos bem assim.

Ricas férias de que me queira servir compreendem encharcar-me de livros até ao pescoço, de preferência acompanhada de muitas árvores, pássaros enchendo o ar aos bandos, uma brisa estival, um vinho branco ao pôr do sol, uns cursos de água por banda sonora. Claro que as cerejas podem vir para o topo do bolo se quiserem: um pequeno museu a pulsar com uma vida antiga, uma aprendizagem inesperada, um quadro que conta uma história densa, um filme de época, uma coincidência celeste. 
Em todo o caso é fundamental, para temperar, a continuação de um cafezinho à minha frente.

(Em particular, recomendo imenso As Árvores, de Percival Everett. Mas imenso.) 

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