a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

24/04/2014

Tudo concentrado

Depois de um dia de trabalho que quase me demoliu, arrasto-me para o ginásio na esperança de 1) a energia da música me elevar deste lodo pesado a pontos altos de vibração e dançar como nunca e 2) manter-me isenta das culpas que me teriam assaltado caso tivesse cedido à tentação de me estender no sofá.

À chegada sou informada que hoje é dia de alongamentos.

Dia de alongamentos... Bem, pode ser que saia daqui mais alta, sempre quis ser mais alta, gracejei. Ninguém riu.

Hm.

A música para alongar é muito zen. Sugere água a escorrer por pedras quentes e harpas tocadas por dedos de anjo. Tililim. Tililim. Céus azuis com nuvens brancas em forma de ovelhinhas, ou coisa assim. Tentei relaxar, esquecer o trabalho.

O primeiro bocejo segurei bem.

A perna para cima, braço ao tecto. Inspira.

O desequilíbrio a querer tomar conta de mim mas não, aguentei-me.

À frente, os braços. Agora abaixo, expira. Tililim. Devagar.

O bocejo seguinte vinha mais forte e saiu mesmo, não há elasticidade para o reter quando estou com metade do corpo alongado. Desculpem, estou cansada.

Olhar para o tecto e levantar as pontas dos pés, joelhos no chão. Tililim.

Parece difícil, mas de lado é pior.

Anca no chão, apoio no cotovelo, perna para cima, esticada, a outra também. Mais. Estou a ficar com frio, quem me dera dançar.

Deitada assim de lado, as pernas esticadas no ar, um braço ao tecto, estou a tremer do esforço para não rebolar, ou será do frio, como é possível isto?, a curvatura da anca de uma pessoa é coisa real. Argh!

Rebolei. Fico de barriga para cima.

As outras, as colegas, tão direitinhas e eu nisto. Tililim.

Num esgar de dedicação, apresso-me a regressar à posição impossível. Metade no ar metade apoiada na convexidade da anca, que entretanto já me dói.

A música tão zen, tudo concentrado e eu o que queria mesmo, meus amores, era isto:

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