a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

14/09/2018

Caldos de galinha

- Ó mãe, da próxima vez que vires o Sr. Valério podias comentar os ovos que ele nos deu. Dizias que já acabaram e depois fazias uma pausa. A seguir dizias que eram mesmo muuuuuuuito bons!... Pode ser que ele nos dê mais, ele tem muitos?
- As galinhas dele. Sim, diz que põem vinte e tal por dia.

A minha filha Saminhas está convertida à boa mesa ou à mesa boa, dependendo do ponto de vista. Quem a viu e quem a vê. Em pequena era um desassossego. Uma vez que cá em casa não havia oreos ou bolicaos, donuts ou iogurtes com açúcar adicionado, ela fazia investidas na despensa da minha irmã Ana, cujo recheio ia muito no sentido dos seus interesses: de chocolates para cima havia lá de tudo – quando desaparecia a minha filha mais nova em casa da tia, toda a gente sabia onde a encontrar. Porém saudável é hoje para ela a palavra de ordem, verde a cor. Na nossa cozinha, já habitam três vasos de manjericão na variedade viçoso e bem hidratado, isto nomeadamente. Muito embora divergindo do espetro do verde, os ovos do Sr. Valério, voltemos à vaca fria, ou das suas galinhas, foram muito bem acolhidos cá em casa. Ele apareceu-me lá na serra com “uma coisa para mim” que se materializava num saco cheio deles. “Tenha cuidado para não se partirem”, advertiu. “Ponha-os no meio da roupa quando for para Lisboa.” E ainda acrescentou, como se eu precisasse de um incentivo para tanto ovo ali tão bom “São uma maravilha, a gema não tem nada a ver, esta é muito mais amarelinha!”. Não os meti no meio da roupa, não fosse o diabo tecê-las, fiz de outra maneira que deu. Isto quer dizer que chegou a Lisboa - com muitos cuidados e caldos de galinha para nos mantermos no contexto - chegou então a Lisboa sã e salva a dúzia e meia de ovos contada por ele e confirmada por mim. E os primeiros exemplares claro que já cá cantam, daí o diálogo encimando o post. Confirma-se realmente o amarelo da gema a tender para o laranja (não tem nada a ver). De modo que optei por não esperar encontrar o Sr. Valério da próxima vez que for à serra. Tomei o telefone e escrevi-lhe comentando os ovos. Dei-lhe razão. A ver se ele me dá resposta. Resposta e... hum… quer dizer... isso.

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