a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

11/01/2020

Uma coisa é muitos (outra coisa é vinte e cinco por pessoa)

Quando entro na sala para comparecer à assembleia de condóminos do prédio, encontro duas vizinhas a acabar de desmantelar a gigante árvore de Natal, disponibilizada pelo vizinho das luvas brancas, já conhecido deste blogue, que este ano ostentou a entrada do edifício (a árvore). Fiquei então a olhar para elas dando ordens rigorosas, este ramo não está bem, aquele não-sei-quê, ponham aqui façam para ali, com voz de comando e tudo. Não, mentira. Pousei mas foi as chaves e o computador que levava para aceder aos documentos da assembleia de condóminos e ajudei-as na tarefa, evidentemente. Uns poucos de ramos de árvore de Natal espalmados depois entrou uma outra vizinha, e passamos a quatro. Esta última a mais faladora, aliás muito faladora, que não precisou de ajudar em nada, estava já a árvore plástica vencida, em partes, jazendo na sua caixa esventrada e desempenhando na perfeição (são muitos anos a virar frangos) o seu papel muito conhecido de árvore-de-Natal-que-não-cabe-nunca-de-regresso-na-caixa-de-onde-veio (numa sala perto de si), isto por mais mãos que a espalmem, e contudo todos os nossos males fossem mas é destes. Adiante: tirando eu, ali todas se chamam Ana. A Ana Faladora avança imediatamente com informações minuciosas sobre o seu Natal enquanto não chega mais ninguém para a assembleia de condóminos daqui em diante AC para o post ainda sair hoje. Eu, que de faladora tenho uma grande fama mas nem por sombras o proveito, fui ouvindo. As restantes Anas contribuíram aqui e ali com informações próprias, também de teor natalício. No entanto estas contribuições estavam a ser completamente atropeladas pela conversa ininterrupta de Ana Faladora (AF, pelas mesmas razões). Eu continuo ouvindo. Na verdade considero pouco provável que alguma das Anas presentes tenha imensa vontade de saber detalhes do meu Natal. De repente, no discorrer da descrição, diz AF que embrulhou uns cento e sessenta presentes. Eh lá, vamos confirmar.
- Quantos disse? Cento e sessenta? - quebro agora o meu lindo silêncio.
- Cen-to e se-ssen-ta, ouviu bem! - AF parece contente.
(Eu sei que a divisão de sílabas está defeituosa no sessenta.)
Com certeza abri mais os meus olhos para ouvir aquilo como deve ser.
- Sim, sim, foram vinte e cinco presentes que dei a cada pessoa! - AF acrescenta, não fosse eu estar incrédula.
- Vinte e cinco a cada pessoa!?!? -  estou tão entretida a confirmar os números de AF que não sei o que estão a fazer as outras Anas, se soubesse dizia. Provavelmente mais pessoas com outros nomes estão chegando agora à sala para a AC e conversam com as outras Anas.
- Para mim, Natal é assim mesmo, com muitos presentes! - AF remata, justificando as quantidades.
Deixei passar o detalhe de cento e sessenta não ser múltiplo de vinte e cinco e mais um ou dois vizinhos que iam - confirma-se - chegando, boa noite, com licença, uma vez que eu estava, se virmos bem, meio na entrada onde se desenrola este post.
Um post que parece mentira e até é. Mas só no ponto supraconfessado. Incrível.

8 comentários:

  1. Incrível mesmo! Qualquer dia até a vizinha terá presente:)
    ~CC~

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  2. Apenas uma coisa me preocupa: chegou a haver assembleia de condóminos? 😄

    Bom fim-de-semana, Susana.
    🌹

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    1. Oh, sim, Maria, lá assembleia houve. 😊
      Um bom domingo 🌻

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  3. Está mas é aqui uma situação (verdade seja dita, este blog está cheio delas), que, se não dá uma força àquela polémica frase "O Natal devia ser todos os dias", macacos me mordam! E o mais giro é que está a acontecer mesmo no meio do desmantelamento de um dos simbólicos enfeites e tudo, vejamos: Um conjunto de Anas em conjugação de esforços para resolver uma situação, uma Susana que largou tudo para ajudar, e, cereja no topo do bolo, todinha para a Susana: "Deixei passar o detalhe de cento e sessenta não ser múltiplo de vinte e cinco..."
    Espero, minha querida Susana, que o teu Natal em data determinada tenha sido mesmo bom e que este novo ano te traga muitas histórias dignas de registo, mesmo que não as contes ao blog e a nós :-)

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    1. Também desejo que tenhas um ano muito bem recheado de bons momentos e muitos sorrisos, daqueles teus :-)
      O meu Natal foi muito bom, foi mesmo especialmente bom este ano.
      E, Cláudia, muito obrigada. Pelos teus votos, mas também por vires cá visitar o blogue e pelas palavras luminosas que cá deixas. :-)

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  4. Também sou Ana mas não sou faladora. Mais, fico agoniada quando estou com alguém, Ana ou não, que fala sem parar.
    Eu também nada teria dito sobre os cálculos matemáticos mas ficar-me-ia a pensar nele toda a reunião...
    Confesso que ao ler o teu post, maravilhoso como sempre, pensei que alguém tinha ficado prejudicado.
    Feliz ano novo!

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    1. Também pensei que alguém teria ficado prejudicado... ou não (talvez haja quem prefira receber menos do que 25 presentes de uma vez... ufa).
      Obrigada, Ana, e um ano muito feliz para ti também. :-)

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