a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

21/07/2020

Café da manhã

Devagar, como sempre faz, o dia emerge da noite. A janela aberta deixa que dele entre um braço de luz prateada, num silêncio. Uma gaivota ronda o pedaço, lançando os seus gritos de praia perto, tão perto da adolescência, ao longe. Com eles quebra o silêncio, golpeando o ar aqui e ali, para lá e depois para cá. 
Lembro-me então dos pequenos caranguejos no lodo que dá chão ao rio. Lá estarão andando de lado, aos arrancos apressados quando a maré deixa. Uns são pequenos outros ainda mais. Absolutamente da mesma cor do lodo, se castanho ou se cinzento fugido, abetonado, condizendo com o majestoso pilar da ponte, não me decido. Mantenho para já, filha de um desconfinamento diário impulsivo, a certeza de que os verei quando o rio se retrai mais fino. Mas são, vejamos, não caranguejos no lodo, como disse, antes são caranguejos do lodo, que é outra coisa. Entretanto, a gaivota voou embora e eu vou fazer café.

6 comentários:

  1. Senti o cheiro a mar! Saudade dele...

    Beijo, Susana :)

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    1. Querida Maria, também eu tenho uma saudade de praia que não se pode, caramba!

      Beijo retribuído.

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  2. Gaivotas por perto é sinal que o mar está revolto, lol
    Saudades do mar e moro tão perto dele. Mas o medo...
    .
    Abraço
    Cumprimentos poéticos

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    1. E devia estar revolto, mesmo - as trovoadas que o digam!
      Abraço retribuído, Ricardo

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  3. Visitei o mar no sábado à noite!! :))
    Adorei a sua publicação!
    *
    Boa tarde. Beijos

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