O passadiço de madeira fresca leva-nos ao restaurado lagar de azeite. A porta aberta bastou para que nos aventurássemos a visitar o belíssimo interior. Uma exposição de míscaros, líquenes e fungos colhidos de manhã na outra margem do rio estava a ser montada por gente do norte, disseram-nos. Gente que os sabe classificar: desde os que dão boas sopas ou um suculento risotto, aos que são mortais quando ingeridos.
À saída, tropeçamos no edifício de um velho posto de transformação. Aquele mesmo que, na parede exterior, ostenta, numa composição de ladrilhos, um orgulhoso mapa da cidade exibindo o encontro entre os dois rios pintado num azul vivo, muito alegre. Como se fosse dali que vem aquela força, tanta beleza.
Mas na esplanada já não está ninguém. Parece que todos terão recolhido o sábado - assim amadurecido, assim morno, assim tranquilo - dentro das suas casas de pedra muito arranjadinhas pelas ruas estreitas. Todos não. Quatro homens estão sentados dentro do café aquecido, demasiado aquecido, a olhar muito quietos, com as faces vermelhas, bolachudas, para a televisão acesa (claro). No programa da tarde decorre uma homenagem a Marco Paulo, o cantor popular que Portugal guardará por muito tempo, estou certa, no seu coração.