Enrolava já ele o fio girando o carreto, conforme a técnica devida, enquanto ela se afastou um pouco para deitar o seu isco à água, empunhando uma cana diferente. Vieram pescar juntos, mas não o mesmo tipo de peixe, tal como os respetivos apetrechos revelavam.
Ela usava um vestido sem mangas, de um amarelo claro, com florzinhas muito pequenas. As botas de borracha, vermelhas, davam-lhe pela barriga da perna. Longos, os seus cabelos castanhos caíam-lhe em caracóis largos pelas costas.
Ele vinha de calções e chinelos, o cabelo de um louro quase branco, um pouco desgrenhado.
Ambos de rosto sério concentrados na respetiva espera pela mordida de algum peixe, mantinham-se em silêncio.
Fiquei a olhá-los. Pareciam personagens dos meus livros de histórias na infância. Tentei calcular-lhes as idades, mas precisei de certezas:
- Que idade tens? - perguntei, em neerlandês.
Virando o rosto sério na minha direção, apercebendo-se então da minha presença, o menino respondeu.
- Eu tenho nove anos.
Ela continuava de olhos fixos na sua bóia de pesca, na água escura do canal.
- E tu, menina, quantos anos tens?
Olhando-me então de frente, como se já esperasse a minha pergunta, disse:
- Eu tenho sete.
Não fiquei tempo suficiente para saber se apanharam algum peixe.
Mas trouxe na alma o belíssimo quadro destas duas crianças em liberdade, em paz e, embora não sorrindo, estando felizes, talvez muito mais felizes do que ainda conseguem perceber.
"...talvez muito mais felizes do que ainda conseguem perceber." - é tão isto, a felicidade, o correr do tempo!
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