a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

22/09/2018

Verstá

Fica este blogue tão lindo com o título do último post a benvindar quem cá entra, que eu tenho andado a deixá-lo estar, mas já chega de mimos. E por acaso pensava que a palavra "benvindar" não existia, porém ao escrevê-la agora não veio a sinusoidezinha vermelha sublinhando a falha. Ai ai.

A páginas tantas do meu Tchékov (ah sim, voltei para ele), fui à procura do significado da palavra "verstá" no dicionário e esbarrei com este artigo de Marco Neves, que li até ao fim. Uma pessoa na internet distrai-se muito. E eu distraí-me recordando - ao ler o Marco Neves - quem diz "colocar" no lugar de "pôr" porque "quem põe são as galinhas". Ou seja: "colocar a mesa" quando se refere a pôr os pratos, copos, talheres e outros básicos nos lugares da mesa para o jantar. Colocar o cinto de segurança, colocar a tampa na caneta. Depois eu quis lá comentar no artigo do referido tradutor e autor mas aquilo pedia o meu facebook e eu continuo sem ter um facebook. Isto, meus amigos, é uma baita de uma discriminação. Quem tem um facebook pode comentar o artigo, quem não tem ou não pode comentar o artigo (e se tiver blogue vem fazer queixinhas para o blogue) ou então que faça um facebook e é já imediatamente. Bar-da-merda. A trabalheira de fazer um facebook só para comentar o Marco Neves. Querias.

E entretanto almocei, pela terceira vez consecutiva, terceira vez, e isto sim, é tema, o almoço do revisor do livro mais lindo que li de Saramago. São todos lindos os que li, todos, mas este último transbordou-me as medidas de tal modo que o deixo influenciar-me o almoço e não é pouco. Almoço eu então o mesmo que o revisor e protagonista d' A História do Cerco de Lisboa. Vou mais longe: há uma eu antes d'A História (do Cerco de Lisboa) e outra eu depois dela. Ah é desta envergadura é! Portanto para quem ainda não leu o livro: leia. Poooor favoooooor.

Mas lá encontrei "verstá". Só que em contradição, ou melhor, em dois comprimentos: 1500 metros e 1067 metros. Não sei em que ficamos. Ou sei, ficamos já aqui.

15 comentários:

  1. Pronto, ajudaste-me a decidir (mesmo a sério), "A História do Cerco de Lisboa" será o próximo a sair da minha lista de espera. De Saramago, ainda só li, "Memorial do Convento", "O ano da morte de Ricardo Reis" e "Ensaio sobre a cegueira", e agora estou mesmo curiosa com "A História do Cerco de Lisboa".

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    1. Então espero que gostes muito do livro e seja uma boa decisão. É um livro carregado de uma tal dose de ternura que soa inesperada em Saramago. Acho eu.
      O "Ensaio sobre a cegueira" é duro, é um livro que dói mas não se consegue largar, o "Ano da Morte de Ricardo Reis" é cheio de mística mas isento de emoção (para mim), e o "Memorial do convento" é uma obra de arquitetura literária belíssima que nos faz espetadores da construção do Convento de Mafra, mas também isento de emoção (embora aquilo de a Blimunda comer o pão de manhã para não ver o "dentro" das pessoas tenha uma beleza quase enternecedora).
      Não sei para que estou a escrever isto tudo, deve ser porque tu puxas por mim, Cláudia :-)
      Depois contas como foi?
      (obrigada pelo comentário, muito gosto eu de saber que o vais ler)

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    2. (que o vais ler ao livro, queria eu dizer)

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    3. Ainda bem que escreveste "isso tudo" que, como calcularás, não gostei mesmo nada de ler :-). E, sim, depois conto-te como foi.
      Agora, até vou contar-te, para a troca, que o que realmente atiçou a minha curiosidade para começar a ler Saramago, e comecei pelo "Memorial do Convento", não teve nada que ver com prémios, mas sim com o facto de, a minha mãe, às vezes, a brincar, chamar-me Blimunda, e depois dizer-me que, se queria descobrir, teria de ler o livro :-). Conto-te também que, dos três, se alguém me perguntasse qual aconselharia para cativar pessoas para a leitura de livros de Saramago, responderia, mas assim sem qualquer hesitação, "Ensaio sobre a cegueira", e, a verdade é que, mais uma vez, devo a alguém "o espicaçar", que fez esse Ensaio não estar ainda na lista dos, já te leio, espera aí mais um tempo, e estou-lhe mesmo grata. Tal qual como dizes, é Saramago a dar-nos uma quantidade considerável de murros no estômago e, nós, de peito feito, sempre à espera do próximo, sem conseguirmos largar o livro (mas, sabes, acho que, mesmo assim, mesmo naquele horror todo, também aparece a ternura, uma ternura ajustada àquela situação, mas ternura. Adorei esse livro). Se me perguntassem, Cláudia, achas Saramago genial, se responderes sim, diz-nos apenas um livro que, na tua opinião, prove isso sem margem para dúvidas, e eu, também sem hesitar, responderia "O ano da morte de Ricardo Reis", vou chamar-lhe, "fabuloso atrevimento concretizado com mestria do princípio ao fim", quando acabei de ler, disse, bolas, este homem é genial! (disse o mesmo no fim do Ensaio, mas, aí, penso que o risco não foi tão grande).
      Dos três, aquele de que menos gostei, foi mesmo o "Memorial do Convento", por outro lado, gostei mesmo muito de, às vezes, ter sido Blimunda.

      Vês? Estás a ver o resultado? Mas por que razão puxas tu por mim! :-)

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    4. Olha que a tua mãe deve ter aí uma certa razão com isso de te chamar Blimunda, deve. :-)
      Que ideia tão bonita. Dizes que gostaste de ter sido a Blimunda... e já não és?

      Eu se fosse uma personagem de Saramago queria ser a mulher do médico no Ensaio sobra a Cegueira. :-)

      Ah! E já que estamos numa de Saramago... sugiro que ponhas "O Ensaio sobre a Lucidez" na tua lista também. :-)
      E sim, Saramago era genial.

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    5. Não fiques, de maneira nenhuma, confrangida com esta primeira parte da minha resposta, que vou responder-te com toda a naturalidade. Chamar-me, às vezes, Blimunda, era uma coisa só da minha mãe, mas a minha mãe já morreu (cedo demais), daí o "ter gostado de ter sido"...

      Mas, ok, está bem, confesso-te, no que toca à, vou chamar-lhe, "percepção de interiores", é em mim que confio, é ;-)

      Sim, fabulosa a personagem "mulher do médico", absolutamente extraordinária.

      Já estava na lista, mas, agora, " A História do Cerco de Lisboa" vai passar-lhe à frente.

      E obrigada pela tertúlia :-)

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  2. Olá! Se quiser comentar no artigo original, não precisa de Facebook. Aqui fica: https://www.certaspalavras.net/obrigada-copo-de-agua-erros-de-portugues/
    E obrigado por ter lido o artigo! :)

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    1. Marco Neves! Mas que boa surpresa! Muito obrigada eu! :-)

      Claro que li o seu artigo até ao fim - tal como outras coisas suas que tenho lido, prendeu-me.

      Espero não ter sido injusta com a plataforma onde está o artigo. Quando tentei publicar o comentário que lá tinha escrito, veio o pedido para eu me registar com a minha (inexistente) conta de facebook e portanto saí logo cabisbaixa, já não é a primeir avez que me sinto excluída por não ter aderido ao fb... e saí sem ver se havia outras formas. No entanto, o comentário dizia o que escrevi no post acima. :-)
      Um abraço e continuação de bom trabalho.

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  3. Olá Susana,
    Sem desfazer nas questões linguísticas e literárias, certamente muito superiores e importantes,"Bar-da-merda. A trabalheira de fazer um facebook só para comentar o Marco Neves. Querias." é o pedacinho mais delicioso deste post.

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    1. Bem... não posso negar que de cada vez que a minha querida MP vem aqui escrever-me um comentário eu fico vaidosa. Bolas, fico mesmo.
      Muito obrigada! :-)

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  4. Sopa de Feijão branco com hortaliças e omeleta com chouriço ou Carapaus fritos com arroz de tomate e salada? Fiquei curiosa.

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    1. Ah, estava a ver que ninguém perguntava... :-)

      Muito mais prosaico: atum com batatas cozidas... (e eu juntei um ovo cozido por minha conta) - quanto mais velha fico, mais simples gosto de comer :-)

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