a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

28/12/2018

Qual pouca terra pouca terra (kadum kadum)

Então, pelo andar da carruagem, concluí que me estava seriamente a candidatar a finalmente cumprir aquilo que foi, pela sua ausência no meu currículo à data, objeto de gozação pelos meus colegas de faculdade: fazer uma direta. Ou seja, não dormir toda a noite e seguir em frente para o dia. Deitada perpendicular ao comprimento do comboio, o kadum kadum ininterrupto e todo ele tão sonoro, levou-me, a meio da noite, a colocar esperançosa as espuminhas nos ouvidos a ouvir que tal. Diz na caixa que reduzem em 36 decibéis o ruído exterior, o que não é nada de se deitar fora. E de facto, depois de se ajeitarem dentro dos ouvidos, expandindo-se, as espuminhas realmente fizeram um serviço: o ruído estrondoso passou a tipo cantar de rouxinol ao longe. Todavia, kadum kadum Espanha fora quer dizer que nem só o ruído esteve presente. Houve também o chocalhar constante do referido andar da carruagem que quase me virava na cama sem eu querer, em cada travagem. Nessa altura lembrei-me que talvez um bebé chorão se acalmasse naquelas condições agitantes. Aliás, posso dizer que há dias, numa paragem acidental em frente a uma montra de artigos para bebé num centro comercial de Lisboa, vi uma novidade muito estranha. A novidade consistia num dispositivo semelhante a um berço dependurado de um pé alto que subia, descia, dava um jeitinho à esquerda e outro à direita e tornava a subir e a descer e assim sucessivamente sempre igual, isto tudo com um bebé de plástico dentro para a gente perceber a ideia. Era uma embaladora de bebés, olha que engraçado. Bah!, disse eu cá para os meus botões. Os bebés vão perceber perfeitamente que este embalar mecânico nada tem de braços quentes de mãe, pai, avó, etc. Vão ainda berrar mais alto, estou em crer. Não comprei.
Dediquei-me então, voltando à noite passada perpendicularmente ao comboio, a escrever mentalmente este post e o anterior para agora, a estas horas, os dar pois à luz.

(mais tarde, o andar da carruagem amainou e eu consegui pregar olho já o sol raiava; ainda não foi desta a direta, é o que é)

2 comentários:

  1. A directa custa muito (já fiz, a conduzir ou a fazer companhia a quem conduzia, mas em férias) às três/quatro da madrugada. Passando isso, e já havendo luz do dia, o corpo assimila o estado de alerta praticamente normal.

    Agora tu: com que então dois posts num só dia? Ena!


    Um feliz 2019, Susana, com mais coisas das boas do que das outras. Beijinhos.

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  2. A mim custa-me muito dormir pouco, quanto mais fazer uma direta!

    Os dois posts num dia: diz o povo que não há fome que não dê em fartura, não diz? :-)

    Obrigada, Gina. Um ano de 2019 muito feliz para ti também. Besos.

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