a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

28/12/2018

Uma precisão

O vizinho inglês que se não-brexitou, tendo voltado até, com toda a família, a habitar a serra que houvera abandonado dois anos atrás, pintou, entretanto, a sua casa. Desta maneira, toda de branco para quem vê de fora, a casa quase se podia referir como casinha. Para acolher um melhor cenário, a designação casinha incluiria uma chaminé a fumegar e alguns vasos de sardinheiras de um vermelho vivo alindando o rodapé. Não é o caso, porém. A casa, isso sim, abandonou o ar de estou-aqui-estou-uma-ruína, tem dois pisos e nenhuma flor que se veja (ou cheire). As portadas das janelas parecem agora, verdade seja dita, muito mais à esquadria e, até, os vidros se apresentam lavados. Foi uma grande melhoria! Não avistei o vizinho para lhe dizer, vizinho que bonita ficou a casa (e não casinha). Nem sequer o vi passando, como da outra vez, com uma cabra pendurada por dois pés a berrar chateada que nem um perú, isto a propósito de Natal. Aliás, das cabras deste vizinho, que já sabemos serem quatro, nada se pôde ouvir, mesmo estando à coca. Contudo há esperança de se encontrarem estes caprinos de plena saúde, a avaliar pelos seus pequenos detritos sob a forma de bolinhas pretas muito bem feitinhas que pululam rua abaixo e das quais me dediquei a desviar respeitosamente os pés com uma precisão.

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