Mas pelas ranhuras de onde sai o ar condicionado vem um cheiro a condutas poluídas de micro-organismos. E então fecho o livro*. Lá fora estende-se Santarém na noite de verão. Vou um pouco enjoada de ler com tamanha sofreguidão nos agitanços do intercidades. Coimbra ficou para trás a chapinhar nas obras próprias de há imenso tempo. É certo que a estação promete belezas novas. Só que entretanto, nas casas de banho provisórias metidas em contentores - a cidadezinha a cuidar do povo enquanto se demora nas construções - os fechos das portas dos cubículos começam a ceder. (para o caso de interessar)
E reflito na grande avenida, aquela que percorri ao cair do dia a caminho da estação. Oferece-nos os loendros do separador central nas suas três cores. O rosa-choque fraquinho na floração, o branco farfalhudo num raro esplendor, o rosa claro benzinho de saúde.
E lá está a esplanada de duas mesas metálicas, de tampo quadrado, rodeadas de cadeiras do mesmo material e cor plúmbea. Em cima de cada mesa um dispensador de guardanapos de papel fino prontos a aconchegar os beiços dos inexistentes clientes, a limpar os seus dedos luzidios de manteiga nenhuma. A esplanada sempre vazia. Naturalmente: a meia dúzia de metros, alinham-se as bombas de gasolina e, do outro lado, a filazinha de bilhas de gás aguardando serventia.
Pergunto-me, antes que o cidades me entregue no Oriente: mas quem se lembra de ajeitar uma esplanadazinha em território de estação de serviço, mesmo ao colo dos reservatórios de combustível, sobre um chão carregado de manchas de óleo e outras porcarias, hein? Quem?
*Viagem ao sonho americano, da Isabel Lucas. Recomendo e é muito.
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