Esta cena - o marcador do "Cebola crua" sobre o "Vem à quinta-feira" - atraiu o canto do meu olho. Detive-me então uns instantes. A tira de cartolina acabada de ali pousar, exibindo um troço da imagem da capa do respetivo livro em tons de azul, estende-se sobre toda a altura do de poesia sem protuberar além dos seus limites nem mesmo um nadinha. Mas não só, também as suas cores comungam numa total harmonia com o espectro de aguarelas de céu e mar que ornamenta a capa do "Vem à quinta". Sério. O canto do meu olho não foi atraído em vão: como se estes dois autores, tão distintos na essência, se entendessem numa mesma linguagem, numa paz ali toda interior.
Suponho que a Filipa Leal reconhecerá sem hesitar a existência do Miguel Sousa Tavares, quem sabe leu "Equador" (toda a gente leu "Equador") e acredito que o jornalista também conhecerá o nome da poeta, nascido como é de uma. Mas, pergunto aqui aos meus botões, que sentimentos nutrirão um pelo outro. Hum?
Se se respeitam, se acham que o outro sei lá o quê, se não estão para aí virados ou se pelo contrário até muito.
E, ainda, já que aqui estamos, se algum dia se cruzaram, se apertaram as mãos, deram dois beijinhos nas faces, ou se terão evitado.
Não sabemos: só eles o poderão dizer.
O que talvez nenhum dos nossos protagonistas saiba, mas nós sim, é que a mesma pessoa pode ler ambos com sofreguidão idêntica. Ah, pois. Porém vejamos a estranheza: com um deles a pessoa pouco ou nada se identifica, e com o outro, caramba, com o outro sente-se em casa.
(A vidinha faz-nos destas e depois o que se há de fazer, depois a gente alcança o dispositivo inteligente e, ao som dos grilos da noite de verão além da janela aberta, enquanto o termómetro desce devagar dos trinta graus, e pouco antes de se deitar a dormir, a gente vai e escreve um post chato como as casas como este.)
A Filipa Leal tem na RTP 2 uma série de programa sobre livros grandes em relevância, reduzidos em volume, "A Pequena Biblioteca" que é sobremaneira interessante -- está disponível também na RTP Play e aqui fica a ligação (como é que Camões, ou Cesário diriam "hyperlink"...?)
ResponderEliminarQuanto a Filipa Leal e Miguel Sousa Tavares se conhecerem -- quem sabe, já que até são concidadãos? Ambos orgulhosos invictos -- o que é o mesmo até, do que serem duplamente compatriotas. O Porto é uma naçom, como afirmam, provavelmente com razom, os portuenses...
Votos de que essa terra sua com verdes árvores e lestos veados esteja mais fresquinha do que a capital. Por aqui, a brisa tímida que ora assoma, não desfaz este calor não fornalha de Vulcano (para usar metáfora adequada à causa dos desmaios do termómetro).
Bom sábado, cara Susana!
Muito estimado xilre, que belíssimo comentário!
EliminarNas verduras serranas, que estão a amarelecer depressa, tem estado grande canicula, pelo que vou vendo, mais calor que em Lisboa!
Eu vi o primeiro episódio da Pequena Biblioteca, mas precisamente por ser tão minimo programa, não me aliciou a ver mais... Hum, acho que estou a contradizer-me... Fico no entanto, curiosa sobre esse hyperlink, vou investigar!
Uma boa noite para si.
Tenho para mim que a Filipa Leal não se apaixonaria por Miguel Sousa Tavares e que espera à quinta feira ( belíssimo poema) seria talvez por um Afonso Cruz, um Afonso Reis Cabral ou um outro assim...de irreverência mais simpática e generosa. Mas...
ResponderEliminarEnfim, um Afonso(menos o Henriques)😂
EliminarQuerida CC, também não esperaria que a Filipa Leal se encantasse de amores pelo MST, mas quem sabe. Estes assuntos são tão intricados, tão caprichosos!
EliminarMas que foi divertido constatar o acaso da sobreposição dos livros deles, isso foi.
E concordo que qualquer um desses afonsos (vivos) daria uma hipótese muito mais previsível.
(mas que casamenteiras nós estamos, hein? o que vale é que nenhum deles aqui passa neste jardim de flores murchitas)
Bom fim de semana! 🌷