Peguei no computador portátil para o fechar e meter na mala de transporte, no momento em que a ponta do cabo se largou à doida para o lado esquerdo num jeito muito rápido e derrubou o camelo amarelo de plástico que está em cima da minha mesa de trabalho a declarar amor ao Qatar desde dois mil e treze. Mas derrubou-o cá de uma maneira que o meu pequeno camelo caiu ao chão com estrondo, aquilo é um plástico amarelo maciço, ou então é uma espécie de massa, agora estou na dúvida, o camelo coitadinho partiu as duas pernas de trás mas como eu ia com pressa para a reunião, deixei-o deitado em cima da mesa a descansar perto das suas pernas, I love Qatar há tanto tempo cansa com certeza, a ver se amanhã peço ao Luís para colar as pernas do camelo, aposto que nem se fica a notar.
Isto foi hoje mas não foi tudo. Depois da tal reunião e de encontrar o vizinho do quarto andar que me fez chegar tarde à aula de ginástica com a conversa dele muito cheia de nove horas, entrei largada no ginásio, pendurei o casaco e a mochila no cabide e fui a correr para o lugar apanhar o exercício de aquecimento onde ele já ia.
- Tenho duas aulas preparadas, preferem bolas ou salsa? - a professora lança a questão no final do aquecimento e eu, que detesto as bolas porque caio delas abaixo e magoo-me nos cotovelos e em outros ossos, as bolas são de borracha, moles mas não muito, e têm de perímetro mais de um metro, não ficam quietas nem sob o meu peso. Fui a primeira a responder, salsa! As outras colegas secundaram-me e os dois homens da classe, cavalheiros, disseram baixinho que preferiam as bolas, mas como estavam em minoria, encolheram os ombros e avançámos alegremente para a salsa. O que eu não contava nos meus cálculos contra as bolas e o esticanço que a professora nos obriga a fazer deitadas em arcos dolorosos para as costas, nada sexy e muito feio aquilo, era que o chão do ginásio estava muito escorregadio. Nas voltas da salsa comecei a escorregar, mas recuperei o primeiro pé. O segundo também e o terceiro. Logo após ter evitado a quinta ou sexta queda, eu já numa salsa contida, muito menos ampla e mais lenta, a professora intervala para irmos beber água. Junto ao cabide onde estão as mochilas com as garrafas de água, perguntei aos outros se estavam a escorregar, estavam. Mas naquele seu sítio é pior, vá para ali, disseram-me, no outro lado escorrega menos. Arrumei a garrafa dentro da mochila, fui. No novo canto larguei-me outra vez, entreguei-me à salsa, confiante no chão dei expressão ao meu corporal, mais expressão, senti o movimento voltar a tomar conta de mim e de repente, num vira dali, sinto o estúpido do chão a espalmar-me a anca esquerda a doer e na cara também e oiço um ahhhhhh... magoou-se?
Se entretanto não me partir toda, amanhã ou depois sou capaz de contar a outra queda que dei, a de sábado passado. Aquilo do camelo foi apenas um aperitivo para preparar o leitor mais desavisado. E a este final chama-se teaser, gosto muito.