Por causa do nevoeiro que Lisboa transpirou todo aquele dia,
houve atrasos em muitos voos, incluindo o meu. Uma coisa é por causa doutra, que
é: os atrasos na descolagem deviam-se à questão de os aviões não terem aterrado
e portanto não estarem presentes; sem lá estar, um aparelho não pode
descolar por muito bons motores que tenha. Como a cada mês que passa os
bilhetes de avião estão mais baratos e mais baratos e mais baratos, já
ultrapassam os do comboio a toda a velocidade e daqui a pouco quem sabe os do
autocarro, mas adiante, por serem muito baratos os bilhetes, os respetivos
passageiros são muitos muitos e são tratados como se fossem uma massa fluida, una, bastante
homogénea, que deve no entanto ocupar cada vez menos espaço, portanto o hangar do terminal dois,
aquilo é um hangar, a-b-a-r-r-o-t-a-v-a de gente. Assim pequeno, sujo e
esquisito, o dito hangar ofereceu-me apenas superfícies verticais ainda
disponíveis às quais me andei a encostar nas duas horas de espera do atrasado
voo, foi uma sorte. Havia quem se sentasse ao colo tipo segunda fila e no chão então
era mato, como se costuma dizer, portanto a tal massa fluida, homogénea; mas eu aí não,
epá não.
Então tive uma ideia: vou comer um pãozinho com queijo, assim
tenho uma boa desculpa para me sentar na parca zona das comidas nem que seja
dez minutos. Mas comi o pãozinho com queijo em pé, pois comi, porque a zona das
comidas estava igual ao resto, porém consegui encostar-me à loja dos lenços a cinco
euros que oferecem acho que é um massajador de costas na compra de dois lenços daqueles, muito
bom. Em vez de aproveitar a promoção, tive outra ideia: ir à casa de banho. Sempre,
talvez, não é, conseguisse sentar-me, vá, dois minutos.
Deixando os detalhes em que encontrei o sanitário à imaginação das pessoas queridas que
me leem e ainda aguentam isto, não me sentei, embora tivesse visitado o pequeno
compartimento, eu, o meu casaco, o trolley, o computador e o
pãozinho com queijo na barriga. Lá fora, na zona comum da lavagem das mãos,
ouvi uma voz de mulher elogiar uma barriga de outra, que barriga linda (por falar em barriga). E a da barriga linda dizia
pois é, e o meu umbigo está
perfeitinho, mesmo lindo. Eu um bocado
admirada com aquela conversa, saio do cubículo depois da ginástica necessária à
operação, e dou de caras com um bebé todo dentro de uma barriga, o umbigo a
olhar para mim, duas mãos ou três, sei lá, a passarem na pele da barriga.
- Está mesmo lindo o meu umbigo, nada saído, nada.
- Pois está, podes crer (mãos a passar a passar), é menino ou
menina?
- É menino.
Quanto ao umbigo, confirma-se (eu olhei): nada saído. Saí eu sim
dali para fora, logo após lavar as mãos, e fui à procura de mais uma boa ideia
para me sentar.
Só pode ser o umbigo de 2017, Susana, assim perfeitinho. :)
ResponderEliminarQue o menino cresça, também, perfeitinho; que depois se transforme em um belo rapaz, e num homem extraordinário, que se esqueça de olhar demasiado para o umbigo, nada saído. :)
Muito boas viagens para 2017, querida Susana. Saberás sempre, a meu ver, ter ideias extraordinárias para fugir às impostas massas fluidas, e eu aqui na terra a ler-te, longe delas.
Abraço horroroso (da nova geração).
Eu gosto muito de observar as pessoas e como reagem, reagimos, às situações. É um entretenimento. :-)
EliminarMas o que mais me encantou foi aquela grávida tão feliz com a sua enorme barriga, achei aquilo um bom augúrio para este novo ano. :-)
O abraço horroroso da nova geração, em dose dupla hoje.
Interessante. Também comecei a escrever sobre a névoa de ontem. Mas é algo diversa que eu pouco ando de avião e nesse hangar só estive uma vez, creio. E barrigas também não vi, excepto a minha para a qual tenho alguma dificuldade em olhar e nem me interessa especialmente. Mas encontro que essa foi uma boa conversa, capaz de amenizar qualquer dissabor. E como cada vez encontramos menos grávidas, há que celebrá-las, olhá-las de feição, mimá-las quanto pudermos. Carregam o futuro na barriga. Ou, se quisermos, o rei. Mas o verdadeiro, não o outro da vaidosice.
ResponderEliminarA escrever, bea?! Mas a bea não tem um blogue para a gente ler, pois não? (Eu já procurei mais que uma vez e nada)
EliminarFoi mesmo uma boa conversa, sim. Não me tem acontecido muito encontrar grávidas orgulhosas da sua condição ao detalhe do aspeto do umbigo, gostei tanto de ver esta! É um bom rei para se ter na barriga, o bebé, sem dúvida.(até me deu saudades, confesso)
Eu também vou espreitar de vez em quando o perfil da bea, para verificar se ela já criou um sítio para a escrita... :)
Eliminartens de encontrar um trolley com acento
ResponderEliminarPrecisamente, Manel. Experimentei este, mas ele quis ceder sob o meu peso, é pouco rígido. :-)
EliminarE encontraste essa boa ideia? É que sentar-te, deves tê-lo feito ao menos no avião, não?
ResponderEliminarBom fim de semana, Susana.
Bem, digamos que só encontrei a boa ideia um bocado mais tarde quando começaram finalmente a embarcar passageiros e vagou uma cadeira; rumei a ela, mas outra pessoa rumou mais depressa, perdia cadeira. Mas logo a seguir vagou outra cadeira e desta vez fui eu a apanhá-la.
EliminarBom fim de semana, Gina :-)
Bom, estamos a ver que os aeroportos se estão a tornar semelhantes às salas de espera dos centros de saúde e dos hospitais, nas quais um lugar sentado é muitas vezes uma miragem. Tão bom ter notícias de gente a nascer, ultimamente os noticiários estão cheios de gente (muitas vezes notável) que morreu. Fiquei intensamente feliz com os dois bebés que nasceram ultimamente na minha família, é um sinal de renovação tão bom.
ResponderEliminar~CC~
Também fico feliz de saber desses "seus" dois bebés, CC.
EliminarUm abraço apertado, não sei se já lhe desejei um ano bom, muito bom.
Os teus relatos, Susana, são sempre uma delícia. :)
ResponderEliminarQuerida luisa... muito obrigada.
Eliminar:-)