a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

25/04/2017

Aroma natural (pode ser cabras e ovelhas)

Recentemente apercebi-me de que ando numa fase das melhores, mais felizes de sempre. É bastante inadequado e estranho, foleiro e parolo, porém absolutamente verdade. Mas pelo sim pelo não, para testar a veracidade de tamanha felicidade e seus eventuais impactos no mundo exterior, aproveitei hoje o almoço com a Marina que me conhece desde antes de lermos as duas Os Maias ao mesmo tempo e disse-lhe assim: ando muito feliz, sabes? A ver se ela revirava os olhos ou me chamava maluca, como já tem acontecido (especialmente o chamar maluca) ou se atirava a cabeça para trás a rir. Mas não. Limitou-se a sorrir calmamente enquanto tudo em nosso redor deu continuidade à existência que já vinha tendo no minuto anterior e depois disse, ai sim? que bom! Portanto vamos continuar.

Tinha começado o dia pela reunião no edifício branco e luminoso que já visitara uma vez e ao entrar, bom dia. Bom dia soa sempre bem. A Doutora Maior com quem combinei a reunião está ali mesmo no corredor junto à copazinha e diz-me que vai tomar café, se eu quero café. Aceito, café aceito sempre. Enquanto corre na máquina o líquido quente e aromático (para não repetir café) a Doutora Outra com quem também vou reunir vem lá de dentro da sala contígua cumprimentar-me, como está. Estou bem (mas não lhe contei que ando assim tão feliz). Beijinho, beijinho. Eu não gosto muito de beijinho beijinho em contexto profissional, mas está enraizada a moda e prefiro segui-la abdicando do muito melhor e mais eficaz aperto de mão do que ser antipática, ainda por cima o cliente aqui são as Doutoras e a felizarda já sabemos que sou eu (para reforçar). E pergunta-me a Doutora Outra se conheço a Doutora Dentro da Sala que está ali a olhar para nós e eu não conheço. Então apresentou-nos e vem a Doutora Dentro da Sala beijinho beijinho, muito prazer. Mas eis que foi completamente diferente. A Doutora Dentro da Sala diz-me logo de repente assim: ai que bem que cheira! é o Escada? (e eu cá para mim, olha a vantagem do beijinho beijinho)
- Não, não é o Escada.
- Deve ser o aroma natural – diz a Doutora Maior que ainda está aqui a beber o seu café e eu o meu (com licença) e se calhar não achou muito apropriada a conversa, mas informou-me prontamente que a Doutora Dentro da Sala é meio francesa e bastante espontânea.
- E eu gosto de pessoas espontâneas e francesas mas este não é o meu aroma natural.
Depois enfiei o nariz na xícara para me entreter com o café e me subtrair a dizer que perfume é o meu, enquanto olho através da janela para a erva lá fora, que está alta e a pedir para ser cortada, e me ocorre uma ideia do tipo startup: um negócio de aluguer de cabras e ovelhas para temporadas em jardins como este onde fariam de cortadores de erva naturais. Serão silenciosas (tirando um ou outro bééé), ecológicas, decorativas, transportam a erva cortada sozinhas e essas sim, seguramente, com aroma natural.

Sei. É da felicidade. E a reunião correu lindamente.

15 comentários:

  1. Que bom que a Susana está em alta. E o post também está, lógico. Pessoas felizes escrevem melhor; e com toada mais corredia.
    Continue, perfumada e de bem com a vida. Ou ela de bem consigo.

    E que Abril seja um estado de espírito que não morre. Mesmo em quem esteja menos feliz, quase infeliz, assim-assim e etc, é compatível.

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    1. Eu tenho ideia, por acaso, bea, que pessoas felizes não escrevem nada de jeito, que a dor e a frustração escrevem muito melhor. Mas pode ser muito errada esta ideia. Afinal as canções de amigo de Camões são ou não são tão impactantes quanto as de escárnio e maldizer?

      Um bom resto de abril, bea.

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    2. A sua é uma ideia muito comum, mas, como costumo dizer, o mundo não é todo igual, e há, decerto,quem funcione ao contrário. A Susana, pelo menos. Ou, de acordo com a sua afirmação, estará infeliz e a fazer de conta que a felicidade existe e por isso escreve melhor:).
      Obrigada pelos votos. Espero nas estações, nos meses, nos dias de sol, nos olhos da minha gata e noutras coisas que não desanimam.

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    3. Obrigada, bea, aceito como um elogio.
      (e não, não estou a fingir mesmo nada)

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  2. Ora como todos sabemos, os estados d'alma das pessoas que nos rodeiam (conhecidas, ou então não) contagiam-nos, em a gente deixando tal, de maneiras que olha: ainda bem que vim ler este post. (leio sempresempresempre todos)

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    1. Ó Gina, agora fizeste-me ainda mais feliz com isso, obrigada.

      (e com isto também)

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  3. deixo só beijinho -beijinho com hífen (supé chique) e não aperto de mão, porque sinto que, de alguma forma, neste caso em particular, assenta bem. e depois é 25 o de abril, aquele que deu possibilidade a mais espontaneidade e tudo e outras coisas (algumas não correram muito bem...mas vá, havemos de corrigir) e a felicidade, as fases boas quando chegam é para ficar, portanto, e o cheirinho a café, mais uma cabrinha ou outra, cortando na erva crescida...está o cenário feito e a reunião acabada.bom dia e boa semana, Susana.

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    1. errata - queria dizer " é para ficarem".

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    2. Mas Mia, entre nós claro que é beijinho (com hífen, pois). Só em trabalho é que eu acho mesmo patético, já vi chefes chegarem ao trabalho, irem beijar toda a equipa um a um e a seguir desatarem aos gritos com alguém que tinham acabado de beijar.
      Boa semana também para ti, Mia.

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  4. Susana! Não vais andando? Nem mais ou menos? Nem um cá estamos?Andas feliz? E escreves isso assim? Com esse atrevimento, essa leviandade, esse despudor? E ao menos olhaste para um lado e para o outro a ver se alguém estava a ver antes de escreveres tal blasfémia? Bolas, Susana, que bom! Viva a liberdade! :-)
    Também não sou nada apreciadora de beijinho beijinho em contexto profissional, mas nada mesmo.
    Também ando feliz.
    E se tivesses iniciado esse negócio tinhas aqui a tua primeira cliente, assim lá prosseguirei com a solução menos natural agendada para a próxima semana.

    Que continues andando desse jeito :-)

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    1. Cláudia, não te consigo arranjar melhor, nem andando, nem mais ou menos, nem cá estamos. É mesmo satisfeita, sim. E muito! :-)

      A sério que te teria como cliente?! Hum... Acho que me vou abalançar para o próximo Web Summit, a ver se um "business angel" se encanta com a minha ideia tão natural.

      Muito obrigada, querida Cláudia :-)

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  5. Respostas
    1. Ó Diogo, que bom ver-te de novo e a sorrir.
      (menos assoberbado?)

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  6. Ah, muito melhor. E ctg em alta, mais um motivo para sorrir.

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