a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

12/05/2017

Fechos para janelas (uma espécie de sonho)

- Lisboa está cansadíssima. Dá pena, se olhares bem. Respira aos arrancos, tem tosse aqui e tem ali. Coça-se a sul e a norte, que é um modo de falar das obras. A lama, ok, não é que seja lama lama com a chuva de maio. É uma pasta cinzenta, estás a ver, bastante homogénea. Forma o avesso das protuberâncias das lagartas, as lagartas das máquinas, tudo, por ali fora. Podes admirá-las no campo das cebolas, se quiseres.
- Ui.
- E não perguntes do metro.
- E do autocarro?
- Não se respira, é tudo fechado. Eu não sabia. Diz nas janelas que não se podem abrir, acreditas? Eu não acreditei logo, li várias. Pensei: a primeira está a brincar, a doida, mas depois a segunda janela dizia o mesmo, todas, li todas para confirmar: não se podem abrir.
- Mas tipo quê?
- Tipo castigo, acho, mesmo para quem paga os impostos e pede fatura, aquilo é assim, muito hermético. E devido às obras, lá está, o trajeto demora, a carreira estica muito. Muuuuuuuito. E a gente, ouve lá, a gente sufoca ali dentro, janelas fechadas de o-ri-gem. Não se aguenta.
- Credo.
- Mesmo. Porque se olhares bem, junto a cada uma vai um martelozinho em vermelho, pendurado, nem sequer é feio o martelo, e vai ali a jeito para quem quiser, de repente, abrir a janela.
- Mas parte o vidro.
- Parte.
- Pá…
- Pois. Era mais fácil a janela abrir com fecho, não é. Daqueles fechos mesmo próprios de janelas, há imensos.
- Tipo com manípulo.
- Tipo.


(a verdade é que ando sempre a falar contigo, mesmo quando os meus hemisférios cerebrais carecem bastante de oxigénio e descem a isto)

14 comentários:

  1. Trabalho num edifício em que as janelas não se abrem. Não têm fechos e nem sequer há martelozinhos vermelhos por perto. Como não hão de estar cansados os funcionários?

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    1. Essa é uma excelente questão, luisa. Creio que não damos a atenção devida à qualidade do ar interior. Já me aconteceu sentir-me mesmo mal dentro de uma sala de reuniões não ventilada, após estar lá fechada com mais 16 pessoas durante umas três horas. Tive mesmo de pedir para abrirem a porta (que as janelas nada) para se poder respirar.

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  2. pareces eu sempre a falar com :)

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  3. é uma claustrofobia muito grave, essa que impõe quem manda nessas janelas. deve ser alguém com medo de constipações. o martelinho vermelho, só para emergências, e se as houver, por favor evitem. é tudo tão caro, façam o favor de respirarem sem esquesitices.
    bom fim de semana, Susana.
    um beijinho,
    Mia

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    1. também não consigo perceber a ideia espatafúrdia de se selarem as janelas e supostamente haver ar condicionado, que não funciona, nem precisa, na maior parte das vezes.
      Mas obrigada, Mia, por teres dito esfola depois de eu ter dito mata. Soube bem. :-)
      Outro beijinho, bom fim de semana.

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  4. Eis outro post que fala do que me preocupa há anos: as janelas dos autocarros e comboios que só cumprem metade da função que é deixar ver para o exterior. Aquela coisa que vemos nos filmes antigos de esticar o braço para fora da janela a procurar alguém, já não existe. Agora os transportes seguem todos o modelo do avião. Uma lástima.
    Mas também é verdade que já não arrepiamos com as correntes de ar, por mor de vizinhos desensaibrados e calorentos

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    1. Pois eu a pensar que era a única a ter estes problemas em respirar ar viciado. Nos aviões percebe-se que as janelas não abram, pronto, agora nos autocarros, circulando à pressão atmosférica, quer dizer.
      Mas bea, nas correntes de ar, se vierem num janeiro gelado, que não há muitos, fecham-se então as janelinhas e aconchega-se melhor o casaco. Acho eu.
      Bom fim de semana. :-)

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  5. lisboa precisa de ar fresco.
    precisa de uma rajada de vento tal que leve a poluição de uma vez e que traga sonhos frescos e sorrisos mil!
    (das janelas fechadas digo apenas que nos hospitais por exemplo se fecham para manter o ambiente controlado, seja em temperatura, humidade ou mesmo microorganismos... existe ainda uma outra razão, os suicídios, é talvez a mais dura razão mas a verdade é que é real).

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    1. Lisboa tem vindo a melhorar muito em muitos aspetos, essa é uma verdade. Mas estes detalhes provenientes de falta de capacidade analítica de quem decide é que não se percebe. :-) quer dizer, eu não percebo.

      O caso dos hospitais é diferente, claro. Os requisitos são outros. E sim, os suicídios estão nesta equação, por incrível que pareça.

      Olá il.

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  6. Há muito que odeio janelas fechadas, até de noite durmo com as persianas subidas. O pior é que também muitos hotéis aderiram a essa moda e as janelas não abrem, já sofri horrores por causa disso. Felizmente que ando pouco ou nada de autocarro, para mim só mesmo os eléctricos antigos com as janelinhas subidas e o vento a entrar...
    ~CC~

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    1. Eu também não entendo totalmente essa moda de fechar as janelas definitivamente nos hotéis. Mas é para mim o suficiente para não voltar a esse hotel.

      Um abraço dos apertados, CC, se me permite. :-)

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  7. "Eu também não entendo totalmente essa moda de fechar as janelas definitivamente."

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    1. Olá Uva :-). Já tinha dado pelo teu feliz regresso!

      A malta tem medo de se constipar, deve ser.

      Mesmo bom teres voltado. :-)

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