Ponho uma sequência de valsas a tocar para mim. Compasso ternário
e por isso facílimas de dançar, mas não danço uma, agora não. Agora vou contar isto.
Saio de casa para ir ao multibanco. Quando acabo de
atravessar a rua, levo a mão ao
cabelo ainda molhado e penso que tenho o cabelo ainda molhado mas com o calor
da rua não por muito tempo. E noto, ainda com a mão na cabeça, que a senhora
que caminha em sentido contrário ao meu e vai cruzar-se comigo já a seguir, me olha
por um certo tempo. Penso se estarei
toda encasacada como por vezes acontece quando me esqueço que é verão e saio
para a rua desajustada. Mas não, casaco nenhum me está cobrindo, talvez o cabelo ainda molhado...
- Olhe, desculpe!
É ela, e a voz vem já de trás de mim, viro-me.
- Diga.
- Ah….. – olhou-me mais fixamente – desculpe, mas não é a Teresinha?...
- Não… não sou.
- Oh… é muito parecida com a Teresinha e eu não a vejo há
anos, mas ela também mora aqui e pensei… não é a Teresinha, pois não?
- Não… sou Susana. (nem mesmo na minha panóplia de irmãs se
encontraria uma Teresinha, por muito que se procurasse, mas isto a senhora não
precisou de saber)
- Ai eu gostava tanto de ver a Teresinha, por isso é que
agora a chamei, pareceu-me mesmo. Pronto, desculpe.
- Não tem importância, um bom dia.
- Bom dia. Tudo a correr-lhe bem, sim?
Sim, tudo a correr-me bem. Mas também tive pena de não ser a
Teresinha, de não dar uma alegria à senhora e saber da sua vida, contar-lhe da
minha, rebobinar os últimos anos, ali, no meio da rua, debaixo de um jacarandá
em flor. Quem seria eu se fosse a Teresinha? Continuei o meu caminho, entrei no
centro comercial, levantei dinheiro no terminal multibanco e tornei à rua
tomando o caminho inverso para casa. Ao subir as escadas junto à paragem do
autocarro, escorreguei e caí. Tenho caído muito ultimamente. Mas levanto-me logo.
(e agora é que danço a valsa, uma destas que continuam a tocar para mim)
Para a próxima faça de conta que é:) Como se fosse uma actriz...(digo isto mas não sei se seria capaz, embora já tenha siso várias vezes a prima, a tia, a irmã... quando vou a instituições de idosos em que alguns têm alzheimer).
ResponderEliminar~CC~
Ainda me passou isso pela cabeça, porque assim de repente empatizei com aquela senhora que viu em mim a Teresinha... mas não seria capaz. :-)
Eliminareu acho que são as pessoas felizes e luminosas que põem valsas a tocar para si mesmas logo de manhã. acho que era de manhã?
ResponderEliminaruh... era assim já depois da meia-noite, digamos que uma espécie de manhã :-) (pus a valsa a tocar enquanto escrevi o post - para dar balanço)
Eliminarmas tanto quanto sei não sou a única a pôr música para si própria... dançar, verdade? :-)
Ups.... :)
EliminarAposto que era a D Augusta, faz tempo que não a vejo.
ResponderEliminarDeve ser isso de andarmos sempre a cair e erguer que está a deixar-nos parecidas...
Ahhhhh então essa saudosa Teresinha és tu!
EliminarJá sabes, se alguém na rua te abordar perguntando se não serás a Susana.... :-) (é porque continuamos ambas a cair e a levantar-nos)
Também caí! Foi uma queda à velha, péssima. Odiei cair!
ResponderEliminarTambém eu. Péssima.
EliminarSabias (não sabias :)) que estive para ser Maria Teresinha, assim mesmo?
ResponderEliminar______
(abençoado pai que, à última hora, pensou na alternativa que ambos ponderaram: Alexandra, Maria :)
Mas Alexandra fica-te melhor. O teu pai sabia.
Eliminar:-)
Eu gostava de ser Teresa; Teresinha para alguns ou mesmo todos que me conhecessem bem. Mas não sou. Teresa é nome agradável. Mas Susana também:). E não sou Teresa e nem Susana. Mas é verdade que meço o grau de intimidade de quem me chama pelo nome que usa para fazê-lo:).
ResponderEliminarTambém levo o tempo a cair o que é um bocado aborrecido, dói e deixa nódoas negras. Um dia destes caí nos degraus exteriores; de vingança, aqueles não vão morrer ali, a velhice sobe melhor uma rampa.
A gente cai mas, se se levanta de seguida, é bom sinal. Quando alguém nos tem de levantar, pode ser pior:).
Bem, bea, eu a si imagino-a desde o primeiro dia Beatriz. Que é um nome muito bonito, também.
EliminarRegra geral gosto de Teresas, costumam ser mulheres com caráter e ao mesmo tempo serenidade, que é uma qualidade que muito aprecio.
Vá-se lá perceber estas coisas :-)
ah, ah, ah...tive uma vizinha a quem o marido sempre chamou Veva. Julgava eu que se chamasse Genoveva. Mas o nome dela era tão outra coisa...quando a interroguei, apenas sorriu, chamou-me sempre Veva.
EliminarPara a Susana sou Beatriz, pois claro. Que também acho agradável. Pensei sobretudo na italiana por quem Dante Alighieri desceu aos quintos dos infernos:).
Ah sua marota, aqui a fintar-nos e eu sempre convencida que todas as beas são Beatrizes :-)
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