Prefiro escrever sobre as belezas pequenas e grandes se for
capaz. Prefiro não escrever sobre as porcarias que as pessoas fazem, ou seja, coisas feias ou nojentas. Mas hoje vai ser.
Sentámo-nos na esplanada porque apesar de estar um julho arraçado
de novembro, vamos dar-lhe uma oportunidade. Afinal daqui estamos a ver os
barcos a repousar na marina uma vez que o sol ainda não se pôs (por ser julho). Fazemos o pedido, escolhemos as mesmas refeições,
temos dez dias de diferença de idade (mas isso não interessa muito para o caso,
é só que eu tenho a mania dos números e dez dias não se nota nada), a Júlia e
eu. Daí a pouco vem o empregado colocar-nos os pratos iguais à frente de cada
uma, só que falta o azeite e o vinagre para temperar a salada, o empregado sabe disso e vai já buscar. Volta então com um copinho metálico pleno de pacotinhos na
vertical metidos ali todos, pacotinhos contendo os acessórios alimentares que a
gente já conhece, a maionese vem junto, o sal confinado aos mais pequeninos que são do tamanho de uma
unha de polegar. Levei imenso tempo a descobrir que thumbnail também é unha de polegar, mas isto interessa ainda menos,
ando a rodear devido ao assunto ser deste baixo calibre, ou feio ou nojento. Mas então o copinho metálico. Ele traz lá dentro, a fazer companhia aos pacotinhos, uma tesoura de
orelhas de plástico. Uma tesoura?! Eu pergunto sempre tudo o que for preciso,
não tem problema nenhum. Mas ao perguntar topei a resposta direto: é para cortar o
gargalo dos pacotinhos de azeite, vinagre e companhia, porque já se sabe (de
outros carnavais, por exemplo) que são dificílimos de abrir só com os dedos, escorregam imenso e até se pode espetar uma unha no dedo do lado, já me aconteceu isso.
- Mas essa tesoura não presta – o empregado é honesto e
informa-nos logo.
A tesoura não presta.
- É do chinês… – alvitra a Júlia.
- É do chinês, sim. Antes tínhamos tesouras boas, mas
desapareciam muitas, especialmente na altura do regresso às aulas... As pessoas
levavam as tesouras, sabem como é… - ele está resignado, encolhe os ombros.
Não, não sabemos como é. Roubar tesouras em restaurantes não
sabemos como é.
Quando nos levantámos, quatro horas depois de conversa tão
boa quanto este post é feio ou nojento, já a lua tinha nascido e havia fogo de
artifício na outra margem do rio em explosões de verde, vermelho e laranja.
Que postagem linda e divertida
ResponderEliminarQue comentário legal. :-)
EliminarObrigada, Evandro.
Essa das tesouras deixou-me surpresa! Tesouras para abrir pacotinhos de condimentos para as saladas? Estou maravilhada por haver quem se lembre de algo tão prático... mas ao mesmo tempo tão estranho! Tão estranho quanto o haver pessoas que depois as levam. E os pratos e os talheres, já agora... não?
ResponderEliminarBeijinhos e sorrisos rasgados à tesourada
(^^)
Olá Afrodite :-)
EliminarÉ estranho e é triste. E é uma vergonha, uma falta de caráter roubar coisas assim, mas há quem o faça.
Beijinhos e sorrisos de volta :-)