Na cafetaria junto ao terraço de ver aviões, no pequeno aeroporto de Eindhoven, escolhi uma mesa com vista para uma tomada elétrica ao
alcance da minha mão, o que pode dar jeito. Vou poder trabalhar largo nas
muitas horas de espera que tenho para embarcar de regresso a Lisboa. Na mesa atrás de
mim está um homem que parece alemão e que está mesmo a falar alemão com alguém,
algures, através do seu headset. Como
se pode dizer headset em português?
Conjunto de cabeça? Conjunto de cabeça. Aprovado (e não soa mesmo nada mal). Ora bem, então
o rapaz – é um homem, mas novo, novo, tipo rapaz – fala o seu alemão do qual eu posso
extrair uma ou outra palavra caso atente. Mas não é bonito ouvir as conversas
dos outros, mesmo que só delas perceba uns 2%, penso. Então que faço eu? Deito a
minha mala no chão, abro-a, e de lá retiro o computador, coloco-o em cima da
mesa, volto à mala aberta no chão que jaz meio atrás de mim, digamos que às 17
horas atrás de mim, e o alemão que se senta às 18 horas mas mais
longe do que a mala, ufa que ainda tenho esperança de um dia conseguir escrever
conciso, de repente cala-se lá com os seus ich
und não-sei-quê, levanta-se da cadeira de um salto e já sem o seu conjunto
de cabeça posto, olha para mim e abre um grandessíssimo de um sorriso, sim, para mim. Quem sabe terei mostrado alguma surpresa, pois ele diz-me logo
depressa, em inglês, acabei de ter uma
entrevista de emprego (e aponta para o seu próprio computador) e, desculpe, mas tenho de dizer a alguém
(parecia estar na iminência de se pôr aos saltos, de pé, ao lado da mesa, eu
sentada, ainda torcida para as 17 horas da minha mala no chão), é que estou tão feliz porque este é o
emprego que eu quero e acho que eles gostaram de mim! E continua,
levantando uma perna, apontando para ela, e
olhe como estou, estou assim! Para uma entrevista de emprego! (está em calções),
mas eles só podiam ver daqui para cima
(agora indica a camisa, um tanto amachucada) e correu tão bem! estou tão feliz!! Perguntei-lhe onde é o emprego,
se é na Alemanha. Sim, é em Colónia. E depois explicou-me a função, o tipo de
empresa, eles são mesmo bons e eu quero
fazer parte do projeto, é uma empresa super! Ele não podia parar, desculpe, é que estou mesmo feliz!
Quando se acalmou e tornou a sentar-se, pude retirar-me da função de ouvinte, voltar-me para o meu trabalho que me espera em cima da mesa às 12
horas, e fazer as minhas até à do embarque, ao passo que ele lá continua nas 18 tornando a dar uso ao seu conjunto de cabeça pelo qual transmite um alemão feliz, fluente, e agora num tom mais baixo, do qual nada, nem 2%, eu ouvi.
Errata: onde se lê "17" deve ler-se "5" e onde se lê "18" deve ler-se "6".
(Graças a AFRODITE, a quem agradeço a correção)
Errata: onde se lê "17" deve ler-se "5" e onde se lê "18" deve ler-se "6".
(Graças a AFRODITE, a quem agradeço a correção)
Estava a pensar que ele ia dar-te um valente abraço! 😁
ResponderEliminarSão estas pequenas coisas que nos provam que a vida é bem mais feliz quando temos com quem partilhar as coisas grandes e importantes da nossa vida, e as menores e menos importantes também.
Levas-me a mal se fizer um pequeno reparo à tua orientação geográfica? (Please don't)
É que os 360 graus à nossa volta repartem-se por 12horas sim... mas da uma às doze, como o relógio de pulso.
Beijinhos Susana e bom feriado, se possível em terras lusas.
(^^)
Olá Afrodite :-)
EliminarMas claro que não levo nada a mal, pelo contrário. Aprecio muito que me ajudem a ser melhor e, quando for necessário, me corrijam, obrigada. :-)
E de facto há alturas em que precisamos mesmo de alguém ali à mão, nem que seja um desconhecido.
Beijinhos, bom feriado. :-)
Nessa altura, a esperar o andamento, tiveste a oferta de estar no momento certo, no lugar certo, e foste incluída na felicidade de alguém. Que momento de valor, Susana.
ResponderEliminarFoi mesmo, Cláudia. Tão bonito ver alguém assim feliz, a ponto de não se aguentar quieto nem calado. Tu também terias gostado de ver :-)
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