Admirei-me de ver o cão entrar no TGV para Paris, tal qual a gente. E depois admirei-me, lá por alturas de Bordeaux, de ter obrigado a sua dona a apanhar com um plástico as coisinhas que depositou ele própio no chão alcatifado. Não sabia que se podia.
Mais tarde, já em Paris e ao jantar, também me admirei de ver outro cão entrar no restaurante cheio de confiança de cão, com seu dono, e a seguir enroscar-se aos pés deste assim todo todo. Porém neste caso não se registou aparentemente a situação de o dono apahar coisas do chão, o que foi muito bom para mim. Lá ficou pois de focinho entre as patas, deitado quieto, ouvindo, como nós, os Beatles, os Beach Boys e ainda alguns Jingle Bells especiais que enchiam o ar iluminado por luzinhas de Natal dispostas à vontade, umas piscando outras não. Penso que o cão não deu pelas baratas que apareceram, uma na parede, outra a correr pelo chão, à hora da sobremesa. Eu ajeitei-me no banco almofadado de modo a aumentar a distância entre mim e a que cirandava pela parede com as antenas a dar a dar, a meu lado. Estava no fim do melhor crème brûlée que alguma vez comi em toda a minha vida, ou seja, a barata que espere. Prossegui devagar porque foi imperativo fazer render aquela delícia toda ela irreal. E isto (rebobinemos a refeição) já na sequência de uma dourada grelhada proveniente do mercado do dia, diziam, apresentada sobre um arranjo de canas de aspeto natural, que eram para enfeitar, acho eu, uma vez que não tentei trincar nenhuma. A dourada secundada por um ratatouille que me fez duvidar se não estaria eu mas é cheia de fome, senão por que razão este ratatouille suplantaria largo todos os meus (ensaios de, mas empenhados) ratatouilles? e que só veio ficar um pouco mais esquecido na hora de meter a colher na lâmina superior do já referido insuportável crème brûlée, que estalou e se deixou misturar com o creme que lhe dava o sustento e que agora revela a minha ausência de possibilidades para descrever tal semelhante aquilo, de tão bom que era. Só me está a faltar mencionar o vinho. Um tinto de uma das castas que a gente ouve falar por aí e que eu desdramatizava cá para comigo (vinho é vinho, ora!) achando que por muito magrot não-sei-quê que seja, não se irá destacar de um qualquer Alentejano bem colhido, mas afinal tanto me enganei! Destacou-se bravo o tal vinho, uma suavidade, uma leveza, uma altitude.
De tanto esperar, a barata da parede escondeu-se atrás de uma fenda que acompanhava a tomada elétrica mais próxima, a do chão fugiu e eu esqueci-me logo imediatamente mas foi das duas.
Eu, não teria conseguido comer, por mais que quisesse. E sairia dali o mais rápido possível.
ResponderEliminarBoa tarde
Olá, noname :-)
EliminarEu diria que também não conseguiria, mas a verdade é que consegui. Ou teria de largar o fabuloso crème brulée... :-)
Boa noite.
ahahahah, nem isso me manteria ali. Que raio, um restaurante onde as baratas se passeiam, nem quero imaginar como será a cozinha Grrrrrrrr
EliminarBoa noite
Bem sei, bem sei. (na verdade, também me sinto um bocado horrorizada comigo mesma, mas o que se há-de fazer, não pude arredar pé :-))
EliminarUm ótimo ano de 2019, noname! :-)
bom ano, Susana. Tão só isto. Votos de um 2019 pleno em tudo o que mais desejares.
ResponderEliminarBeijinho,
Mia
Olá Mia :-)
EliminarApesar de o ano novo já ir em 4 dias andados, eu penso ainda vir a tempo de te agradecer e retribuir os votos de um ano muito feliz, cheio de boas concretizações e alegrias!
Beijinho de volta.
Bom, quando uma barata nos aparece em casa também não fugimos de casa. Confesso, contudo, que acho que não voltaria a esse restaurante, não obstante o magnífico paladar. Também já tive de ficar num hospital cheio de baratas (em África) e não pude fugir:)
ResponderEliminarBom ano Susana, um abraço apertado.
~CC~
Querida CC, num restaurante ainda vá que não vá, agora num hospital... a dose deve ser bem pior.
EliminarEspero que neste novo ano não precise de visitar nenhum hospital, que seja um ano cheio de saúde e alegrias.
Abraço apertado todo retribuído :-)